Por Andre Motta – Especialista em Investimentos
Segundo a Wikipedia, a quarta-feira de cinzas é o primeiro dia da Quaresma no calendário Cristão ocidental. As cinzas que os Cristãos Católico recebem neste dia são um símbolo para a reflexão sobre o dever da conversão, da mudança de vida, recordando a passageira, transitória e efêmera fragilidade da vida humana sujeita à morte. Ou seja, é um dia de celebração da mortalidade do ser humano.
E, talvez, esta última quarta-feira (26/02) possa ser lembrada como a data da celebração da mortalidade dos investidores em ações. Sim, somos todos falíveis e podemos perder dinheiro com o investimento em bolsa e jamais devemos nos esquecer disto.
A ressaca, da ressaca, da ressaca pós-carnaval
Uma euforia tomou conta de todos após o rally de fim de ano. A bolsa estava para cima e ninguém queria perder o movimento, muito menos ficar de fora, ou melhor, todos queriam aumentar sua posição em ações.
Conforme escrevi algumas semanas atrás, bastou trocar a renda fixa pelo mercado acionário em meados do ano passado, para que os patamares elevados de rentabilidade se mantivessem e que isto não seria um novo normal.
Acredito que agora sim temos algo mais real na cabeça de todos: a bolsa nunca sobe para sempre. A bolsa cai e cai forte. No entanto, é preciso assimilar neste momento o fato de que, assim como nunca sobe para sempre, também nunca cai para sempre.
O mercado é educativo
Dado que, a princípio, vivemos um período de mudança estrutural na forma como o brasileiro deverá encarar seu portfólio de investimentos do momento presente para o futuro, esta realização dura que o mercado impõe a todos, hoje, é bastante educativa. Para além disso: só aprendemos com a queda.
Aumenta-se a posição em bolsa com a mesma em baixa, além de uma reserva em renda fixa com liquidez. Mesmo que a renda fixa rentabilize muito pouco nos dias atuais ou quase nada, é sempre bom tê-la no radar para aproveitar as oportunidades.
Assim quando, no futuro, o mercado não parar de subir, se faça as 03 perguntas abaixo:
1. Estou comprando por efeito manada, ou seja, apenas pelo fato de que todos estão comprando e por que o mercado não para de subir?
2. Estou com otimismo exagerado frente ao real quadro do mercado?
3. Estou considerando uma cia o suprassumo de geração de valor apenas porque tenho ela na minha carteira?
O momento de baixa
Assim como neste momento de baixa, também há reflexões que precisam ser feitas antes de, simplesmente, pular fora do mercado, realizando prejuízos:
1. A tese que me fez comprar determinada ação mudou? Sua perspectiva de crescimento de lucros está definitivamente modificada?
2. Estou vendendo apenas porque o mercado não para de cair e todos estão vendendo?
3. Estou pautando minhas reações por eventos passados extremos e marcantes?
Esta última pergunta talvez seja a que mais me chame a atenção, porque tem sido muito natural ver as pessoas vinculando-a à 2008.
Além da situação, hoje, ser completamente diferente, não temos sinalização de crise bancária sistêmica no horizonte. Assim, poucos atentam que em 2019 a bolsa brasileira se valorizou 83%, recuperando toda baixa do ano anterior.
Eventos como a crise do subprime americano são fortes e marcantes, como foi o confisco da poupança dos brasileiros no Governo Fernando Collor que, até hoje, traz medo a quem viveu aquela época. Precisamos dominar o medo e agir de acordo com as situações presentes.
Conclusão
Não me atrevo a dizer quando o mercado chegará ao fundo e voltará a subir. Contudo, sei que um dia ele vai voltar, pois as cias continuam firmes trabalhando para entregar crescimento dos lucros. Isto é o que interessa no final.
Enquanto isto, numa carteira equilibrada, seguem os fundos multimercados, imobiliários e a parcela de renda fixa, servindo como amortecedores desta volatilidade e como reserva de recursos para um rebalanceamento do portfólio que permita aproveitar as oportunidades abertas pela volatilidade presente.
Andre Motta
Especialista em investimentos
>> Engenheiro, pós-graduado em Finanças, com Mestrado em Administração, aprovado nos exames da ANCORD, APIMEC (CNPI-T) e ANBIMA (CPA-20).
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