Análise e Opinião

Análise e Opinião

Dinâmica das Projeções Econômicas: O Papel do Boletim Focus em um Cenário de Incertezas

Por
Caio Barbosa

letters with seal on table 2023 11 27 05 07 47 utc scaled

Toda segunda-feira o Banco Central do Brasil publica o boletim Focus, nesse documento é divulgado a mediana das projeções do mercado sobre alguns dos mais importantes dados econômicos: IPCA, PIB, câmbio, e taxa Selic.

Frequentemente confundida com uma posição institucional do BACEN, o Focus nada mais é do que um compilado de projeções feitas por dezenas de instituições financeiras, consultorias e entidades de classe. Após o seu recolhimento, o BACEN publica a mediana (conceito estatístico que seleciona os valores de grandeza intermediária de determinada base de dados, privilegiado sobre a média aritmética por não levar em consideração os dados mais discrepantes e permitir uma noção mais homogênea da leitura desses dados) de tais projeções, como uma baliza de como o mercado enxerga a trajetória de preços macroeconômicos para o final do ano corrente e do seguinte.

A periodicidade semanal das publicações do Focus pode sugerir que seus relatórios não seriam tão discrepantes, pelo menos entre períodos mais curtos, porém, diversos fatores contribuem para que mesmo entre períodos de poucos meses, o relatório publique projeções consideravelmente divergentes dos preços macros que ele analisa. Isso fica latente quando analisamos a mudança de projeções da taxa Selic nos últimos meses.

Impactadas pela delicada situação fiscal de um país que registra apenas um período de superávit primário nos últimos onze anos, as projeções do Focus vêm se mostrando especialmente sensíveis frente a ruídos e declarações sobre a condução da política fiscal. Em um país cujas demandas por gastos sociais se mostram incalculáveis, e cujo a infraestrutura se deprecia a cada período, a discussão sobre cortes de gastos se coloca como um desafio consideravelmente complexo frente a todas as forças políticas que compõe os governos.

A trajetória das projeções da Selic nos últimos doze meses reflete como componentes políticos como declarações por parte de policy makers podem impactar nas projeções. Na análise do gráfico a seguir, temos uma visão clara dessas influências.

WhatsApp Image 2024 07 25 at 17.40.55WhatsApp Image 2024 07 25 at 17.40.55 1

Fonte: Focus Relatório de Mercado

A aprovação do novo arcabouço fiscal pela câmara dos deputados em agosto de 2023, que condiciona o aumento real de despesas públicas ao resultado primário anterior, somado com o início do período de cortes de juros por parte do BACEN, fez com que o mercado também decrescesse suas projeções para o juros futuro, chegando a uma projeção de 9% da taxa Selic para o fim de 2024. Poucos meses depois, em meio as votações da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), uma declaração do Presidente da República, sobre a dificuldade de cumprimento da meta fiscal zero para 2024, fez com que as projeções de Selic subissem em meio por cento.

No primeiro semestre de 2024, o otimismo  da virada do ano foi substituído por uma conjuntura mais estressada na qual a expectativa de corte de juros por parte do Federal Reserve foi postergada, a tragédia das enchentes no Rio Grande do Sul e as consequentes dificuldades do governo em lidar com a política fiscal em ano eleitoral, somaram-se à um mercado de trabalho que se mantém resiliente, fazendo com que o BACEN adotasse uma política monetária mais cautelosa em relação ao controle da inflação.

A considerável mudança de conjuntura nos últimos tempos, fizeram com que as projeções de Selic saltassem de 9% para 10,5% em um período menor do que três meses. O otimismo da virada de ano sucumbiu principalmente à manutenção dos juros Norte Americanos, ao passo que os juros do FED mantêm-se altos por mais tempos, seus títulos de dívidas, os chamados Bonds, mostram-se especialmente atrativos frente a outras aplicações financeiras, o que gera um fluxo de recursos financeiros para os Estados Unidos, na medida que seus títulos livres de risco estão com remuneração atraente, tal fluxo se soma a conturbada conjuntura fiscal interna para abreviar o ciclo de queda da Selic, elevar consideravelmente a taxa de câmbio e fazer com que as expectativas de juros futuro se elevassem.

Para o segundo semestre, porém, a expectativa de corte do juros por parte do FED em setembro, pode revigorar a onda de otimismo, especialmente quando notamos uma mudança de discurso do governo em relação ao compromisso fiscal, a congelamento de R$15 bilhões de despesas discricionárias, que apesar de ainda serem medidas insuficientes para ancorar as expectativas, podem alçar o segundo semestre a um patamar bem diferente do cenário atual, podendo beneficiar enormemente a renda variável brasileira que frequentemente vêm sendo classificada por analistas como barata e propensa à compra por investidores.

As constantes revisões das projeções demonstram a sensibilidade do mercado a fatores políticos e econômicos internos e externos, como mudanças nas políticas fiscais e monetárias, bem como eventos internacionais que afetam a economia global. À medida que o cenário econômico evolui, a atenção às projeções do Focus continua sendo fundamental para investidores e analistas, ajudando-os a navegar por um ambiente econômico dinâmico e, muitas vezes, imprevisível. No segundo semestre, o foco estará na resposta do mercado às decisões políticas e econômicas, como a postura do Federal Reserve e o comprometimento do governo brasileiro com a responsabilidade fiscal, o que poderá impactar significativamente o otimismo e a recuperação econômica.

 

Deixe um comentário