A cautela externa continua a prevalecer, agravada agora por nova escalada de ataques russos à Ucrânia, que atingiu nesta segunda-feira a capital, Kiev, em retaliação à destruição, no sábado, de ponte que ligava o território russo à Crimeia, uma ligação que era considerada símbolo da anexação da península em 2014. Na agenda econômica, a semana reserva nova leitura sobre a inflação ao consumidor nos Estados Unidos e a ata do Federal Reserve, além do início de nova temporada de balanços trimestrais, o que ajuda a entender o compasso de espera visto nesta segunda-feira.
Embora as perdas do dia tenham se mostrado relativamente moderadas da Ásia à Europa e aos Estados Unidos, o Ibovespa volta a manter correlação com o desempenho externo após o entusiasmo com o resultado do primeiro turno da eleição, há uma semana, ter feito o índice saltar 5,54% na última segunda-feira, o que garantiu ganhos bem superiores a pares externos ao longo da semana passada, com apenas um recuo, de 1,01%, registrado na última sessão do intervalo.
“Dia de feriado nos Estados Unidos, as bolsas operaram mas com menor liquidez. Os mercados lá fora aguardam nesta semana a divulgação de novas leituras sobre a inflação nos Estados Unidos, e com novas falas de dirigentes do Federal Reserve em tom ‘hawkish’, que deve aparecer também na ata do Fed, na quarta-feira, mesmo dia em que começa temporada de resultados corporativos, do terceiro trimestre, no país”, diz Piter Carvalho, economista-chefe da Valor Investimentos.
“Os dados da última sexta-feira mostram que o mercado de trabalho continua muito forte nos Estados Unidos, com taxa de desemprego em mínima de quase 50 anos, que coloca pressão nos salários”, diz Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master. “Aumentou muito a probabilidade de novo aumento de 0,75 ponto porcentual na taxa de juros americana na próxima reunião do Fed, no dia 2 de novembro, o que faz o S&P 500 voltar para aquela região difícil, dos 3.600 pontos, com cara de ‘bear market'”, acrescenta o economista.
Ele aponta que métricas de juros vis-à-vis inflação americana embutem taxas reais de curto prazo – de um ano adiante descontada a inflação esperada para os 12 meses à frente – em torno de 1,63%, “na máxima de muitos anos”.
Na B3, a “força vendedora”, observa Letícia Sanches, especialista em renda variável da Blue3, acentuou-se à tarde com a piora do desempenho do petróleo, o que colocou Petrobras ON e PN em baixa, respectivamente, de 0,91% e de 1,13% no fechamento, em dia amplamente negativo também para Vale ON (-2,01%) e para as ações de grandes bancos (BB ON -1,45%, Bradesco PN -1,51%, Itaú PN -1,06%). “O pleno emprego nos Estados Unidos reforça os temores dos investidores quanto ao risco de uma política monetária mais agressiva e, em consequência, de recessão”, acrescenta.
Na ponta perdedora do Ibovespa destaque nesta segunda-feira para Cosan (-7,51%), refletindo ainda a preocupação em torno de aquisição de participação acionária na Vale, à frente na sessão de Rumo (-4,60%) e de Natura (-4,29%). No lado oposto, SLC Agrícola (+6,05%), São Martinho (+5,53%) e BRF (+5,13%).