O coordenador do programa de energia do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Clauber Leite, afirma que o governo tem falhado em apresentar um planejamento que evite déficits como o atual. “O caminho para mais uma solução insustentável está posto, e isso vemos com a notícia do rombo que ficará para o setor elétrico, após esse acionamento indiscriminado de térmicas. Já tínhamos alertado para esse risco de um novo empréstimo a ser tomado em nome dos consumidores, e parece que temos mais um elemento para irmos nessa direção”, afirmou.
Já o presidente da Associação dos Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace), Paulo Pedrosa, chama a atenção para o custo médio das térmicas, um triplo acima do normal. “A Abrace vem alertando seus associados há muito sobre a explosão do custo da energia para o próximo ano. Só em relação aos Encargos de Serviço do Sistema (ESS), térmicas contratadas emergencialmente e a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) podem superar o preço de R$ 130 por megawatt-hora em 2022, quando não deveria ultrapassar R$ 40”, afirma.
“É quase o custo de uma energia nova. É importante atacar a raiz dos males que comprometem o setor elétrico. O preço equivocado da energia esvazia os reservatórios e depois cobra caro dos consumidores para enchê-los de novo.”
CUSTOS
A área técnica da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) concluiu que, até abril de 2022, as “melhores estimativas” apontam para um rombo da ordem de R$ 13 bilhões, valor que já desconta o que será cobrado do consumidor por meio das chamadas bandeiras tarifárias – uma taxa extra incluída na conta para bancar os custos das usinas térmicas.
O acionamento das térmicas, porém, não é o único fator que explica o rombo financeiro do setor elétrico. Outra fatura, estimada em mais R$ 9 bilhões, que será paga pelo consumidor tem origem nas contratações “simplificadas” de energia feitas pelo governo no mês passado. Trata-se de uma “energia de reserva” que será entregue a partir de maio do ano que vem, para dar mais segurança e evitar o racionamento.
IMPORTAÇÃO
Os reajustes são puxados ainda pelo aumento de importação de energia, por meio de contratos firmados com a Argentina e o Uruguai. Como os reajustes de tarifas são feitos anualmente pela Aneel, após analisar os custos de cada distribuidora de energia do País, o porcentual de aumento varia de Estado para Estado.
Cálculos da Confederação Nacional da Indústria (CNI) apontam que o aumento no preço da energia elétrica resultará em uma queda de R$ 8,2 bilhões no PIB neste ano, em comparação com o que ocorreria sem a crise energética.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.