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Com Omicron, Ibovespa cai 3,39% e cede 0,79% na semana

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Estadão Conteúdos

O dia foi de pânico global como há tempos não se via, com a referência americana de petróleo, o WTI, mergulhando 13% no pior momento e o Brent, a referência global, saindo da casa de US$ 81 para baixo de US$ 72 por barril, também em correção de dois dígitos. Em Nova York, em sessão mais curta após o feriado de Ação de Graças, a Black Friday assumiu conotação nova em 2021, com perdas superiores a 2% nos índices de ações, ainda assim, bem inferiores às vistas na Europa, onde Paris fechou em queda de 4,75%, Frankfurt, de 4,15%, e Londres, de 3,64%.

Na B3, contendo um pouco a correção na etapa final da sessão, o Ibovespa cedeu 3,39%, a 102.224,26 pontos, devolvendo boa parte da recuperação de 3,61% acumulada nas três sessões anteriores, que o colocava em terreno positivo no mês e na semana. Assim, a referência fecha a semana com perda de 0,79% e põe a do mês a 1,23%, estendendo a série negativa iniciada em julho com apenas a segunda e terça-feira faltando para o encerramento de novembro.

Batizada pela Organização Mundial de Saúde como ‘Omicron’, a nova variante do coronavírus identificada no sul da África lançou o Ibovespa em retração de 4,08% no pior momento do dia, no começo da tarde, um nível de perda não visto em fechamento desde 22 de fevereiro (-4,87%), no auge do temor quanto à intervenção no comando da Petrobras e de interferência do governo na política de preços da estatal. As perdas vistas no pior momento desta sexta-feira superavam por pequena margem as do encerramento de 8 de março passado (-3,98%), quando o mercado reagia ao retorno do ex-presidente Lula ao jogo eleitoral.

Ao final, a queda de hoje foi também menor do que a de 8 de setembro (-3,78%), quando a reação do mercado era ao presidente Jair Bolsonaro e a seu discurso no feriado da Independência, na Avenida Paulista – e não muito distante, hoje, da observada em 19 de outubro (-3,28%), quando emergiam com força os temores sobre a viabilização do Auxílio Brasil em contexto de deterioração da situação fiscal.

Nesta sexta-feira, a OMS observou que o número de casos da nova variante parece estar em ascensão em quase toda a África do Sul, enquanto, no Brasil, o Ministério da Saúde emitiu “comunicação de risco” em que recomenda a manutenção do uso de máscara e do distanciamento social, ainda que a vacinação “provavelmente” contribua na resposta à cepa, identificada também como B.1.1.529.

“Vindo de feriado nos Estados Unidos ontem, era pra ser um fechamento de semana mais tranquilo, com o Ibovespa em recuperação nas últimas três sessões. Mas essa variante pegou todo mundo de surpresa, desprevenido mesmo. Os governos já começam a reagir e é preciso esperar um pouco para ver o grau de restrição à mobilidade e o efeito que poderá ter na atividade global, que vinha em recuperação a ponto de alterar a perspectiva das políticas monetárias”, diz Mauro Orefice, diretor de Investimentos da BS2 Asset.

Assim, o câmbio hoje já refletiu um realinhamento entre euro e dólar, na medida em que o viés da política monetária no bloco da moeda única vinha se mantendo mais ‘dovish’ do que o ajuste em andamento nos Estados Unidos, ora em retirada de estímulos como reação ao avanço da inflação. Dessa forma, apesar da enorme aversão a risco desde o exterior, que afeta as moedas de emergentes e de países exportadores de commodities, como o Brasil, o real fechou o dia relativamente acomodado, com o dólar à vista em alta de 0,55%, a R$ 5,5958, saindo de máxima na sessão a R$ 5,6629.

“Com o real já muito depreciado, esse movimento de euro e dólar pode contribuir para segurar um pouco por aqui com relação à moeda americana. Desde o fim de outubro, houve retirada de prêmio na curva de juros, aqui. E os longos podem continuar fechando, com a reavaliação decorrente dos efeitos econômicos dessa nova variante, sobre a atividade e a inflação. Os preços de commodities como o petróleo já reagiram com muita intensidade hoje. Há muita incerteza ainda. É preciso aguardar os desdobramentos, com muita atenção também ao fim de semana”, acrescenta Orefice, observando que a aversão a risco generalizada que prevaleceu nesta sexta-feira levou o yield de 10 anos dos Estados Unidos de 1,67% para 1,48%, de ontem para hoje, em movimento abrupto.

A demanda por proteção em Treasuries é compreensível: a percepção de risco sobre a nova onda de Covid-19 na Europa se conjuga agora à emergência de nova variante sul-africana, sobre a qual não se sabe a eficácia das vacinas atualmente disponíveis, nem o grau de transmissão e de efeito sobre a saúde humana – a nova variante teria 50 alterações, das quais mais de 30 no ‘spike’, o esporão que conecta o vírus às células. Assim, hoje na B3, a mínima intradia de 101.494,70 pontos correspondeu ao menor nível para o Ibovespa desde 9 de novembro de 2020 (100.953,95 no intraday). O encerramento, contudo, ficou acima do último dia 22 (102.122,37), segunda-feira, o menor nível de fechamento do ano.

Com as perdas generalizadas nesta última sessão da semana, apenas duas ações da carteira Ibovespa conseguiram escapar da correção (Suzano +0,15%, Taesa +0,11%), e as perdas se mostraram mais acentuadas, naturalmente, nas empresas associadas a transporte e viagens, como Azul (-14,18%), Gol (-11,81%) e CVC (-11,06%), na ponta negativa do índice nesta sexta-feira. Entre as blue chips, destaque para a correção em Petrobras (ON -4,36%, PN -3,88%), Vale ON (-2,64%) e também nas ações de grandes bancos (Bradesco PN -4,00%). Com exposição a commodities, os preços nas ações de siderurgia chegaram a cair 6,58% (Usiminas PNA), considerando o fechamento.

Em sessão tradicionalmente mais curta na Black Friday, Dow Jones fechou em baixa de 2,53%, S&P 500, de 2,27%, e Nasdaq, de 2,23%. Na B3, com o desempenho desta sexta-feira, o Ibovespa passou do positivo ao negativo na semana e no mês, após perda de 3,10% na anterior. No ano, cede agora 14,11%. O giro financeiro de hoje ficou em R$ 28,5 bilhões.