Depois de esboçar uma alta até a linha de R$ 5,70 entre o fim da manhã e o início da tarde, ao correr até a máxima de R$ 5,6924, o dólar à vista desacelerou ao longo da segunda etapa de negócios encerrou a sessão desta segunda-feira, 10, a R$ 5,6753, avanço de 0,76%.
Em janeiro, a moeda acumula valorização de 1,76%. Na B3, o contrato de dólar futuro para fevereiro fechou a R$ 5,6900, em alta de 0,44%, com giro reduzido, de US$ 8,2 bilhões.
O índice DXY – que mede a variação do dólar frente a seis divisas fortes – operou em alta ao longo do dia, superando, nas máximas, a linha dos 96 mil pontos. A moeda americana também avançou em bloco na comparação com divisas emergentes, à exceção da lira turca e do rublo, que haviam apanhado muito na semana passada e passam por uma recuperação técnica.
Além do ambiente externo desfavorável a divisas emergentes, também pesa sobre o real o desconforto com a questão fiscal. As mesas de operação monitoraram o vaivém de declarações em torno da possibilidade de o governo voltar atrás na intenção de reajustar salário de servidores federais da área de segurança, após protestos de demais categorias do funcionalismo.
Segundo apurou o Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), o ministro Paulo Guedes (Economia), de volta do recesso de fim de ano, teria alertado o presidente Jair Bolsonaro de que um reajuste às forças policiais (com base em R$ 1,7 bilhão reservado no Orçamento de 2022) seria “explosivo”.
Para evitar a pressão do restante do funcionalismo, o melhor seria não conceder nenhum aumento. Policiais federais e líderes de associações que representam a categoria afirmaram reservadamente ao Broadcast que um possível recuo de Bolsonaro pode fazer policiais irem às ruas criticar uma “falta de compromisso” do presidente para com o órgão.
Na avaliação do líder de renda fixa e produtos de câmbio da Venice, André Rolha, embora existam motivos locais para justificar uma taxa de câmbio mais depreciada, a alta do dólar nesta segunda-feira está mais ligada ao ambiente externo. “Com essa expectativa de trajetória de alta de juros nos Estados Unidos e dados macroeconômicos robustos, a tendência é de valorização do dólar em todo o mundo”, afirma Rolha, ressaltando que parte da pressão adicional sobre a taxa de câmbio veio após o banco Goldman Sachs aumentar sua previsão quanto ao número de elevações da taxa de juros nos EUA neste ano. “Isso pesou muito sobre o dólar e levou a taxa dos Treasuries de 10 anos e buscar 1,80% pela manhã.”
Em relatório, o Goldman Sachs, que já previa três elevações da taxa básica americana (em março, junho e setembro), passou agora a projetar uma alta adicional, em dezembro. O banco chama a atenção para o fato de a última ata do Fed, divulgada na semana passada, ter revelado a discussão sobre a “normalização do balanço patrimonial”, o que “transmitiu um maior senso de urgência do que esperávamos”. Na semana passada, o Citi havia elevado suas estimativas de alta de juros pelo Fed de três para quatro, com a primeira em março.
“Estamos vendo uma alta dos Treasuries e valorização do dólar frente a seus pares. E um mundo assim é pior para os mercados emergentes, o que penaliza o Brasil. Os ativos estão sendo direcionados hoje pelo que está acontecendo lá fora, até porque por aqui não há grandes novidades”, afirma Mauro Morelli, estrategista-chefe da Davos Investimentos.
“Tem uma mudança de precificação dos ativos no mundo. A chance de alta de juros nos EUA em março está aumentando. Era de 50% na semana passada e agora está perto de 80%. A taxa da Treasury de 10 anos está em um dos maiores patamares desde o segundo trimestre do ano passado. Isso tem um reflexo muito grande nas principais moedas”, afirma Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.
Como programado, o Banco Central promoveu nesta segunda-feira leilão de rolagem de contratos de swap cambial que vencem em março, com a venda da oferta integral de 17 mil contratos (US$ 850 milhões) em dois vencimentos.