Como o sr. avalia o resultado da inflação de 2021?
Era um resultado esperado por causa das pressões muito concentradas em energia e combustíveis. Praticamente a metade da inflação do ano passado foi influenciada por esses dois preços, que contaminam outros setores, como a indústria e os serviços, por exemplo. Esse espalhamento se materializou. Vimos uma recuperação grande da inflação de serviços e de bens duráveis.
A fatia dos preços que subiram de novembro para dezembro aumentou mais de dez pontos porcentuais, de 63,13% para 74,8%. É um descontrole?
Essa é a prova do espalhamento, mas não é descontrole, porque a taxa em 12 meses até recuou em relação a novembro.
Essa difusão maior não é um risco?
Será um risco se persistir nesse patamar. Mas acho que ela visitou esse novo patamar porque em dezembro é sempre um mês de demanda mais forte. A difusão não vai ficar aí. Isso porque a inflação que projetamos para janeiro corresponde a metade da inflação de dezembro. Para janeiro espero um aumento de 0,35%. É um mês de volta às aulas, de despesas fortes para as famílias e demanda enfraquecida. Acho que a pressão de janeiro virá em torno dos alimentos. As chuvas estranhas que têm acontecido no Sudeste e a seca no Sul.
Qual a perspectiva da inflação para este ano?
A agricultura, que não estava na conta como fonte de pressão inflacionária tão forte para 2022, agora começa a entrar no radar. Esse calor extremo no Sul pode afetar as lavouras de ciclo mais longo que podem diminuir a contribuição da agricultura para conter a inflação de 2022. À medida que esse fenômeno persistir, o saldo pode ser preços mais altos para alguns alimentos básicos, e isso pode gerar um problema maior para conter o avanço da inflação deste ano.
Qual é a sua projeção de inflação para 2022?
Esperamos uma inflação que corresponda à metade da registrada no ano passado, sem contar com uma pressão maior dos alimentos por causa do clima. Essa inflação de 5% é muito distante da meta de 3,5% prevista para este ano.
Quando o brasileiro vai sentir algum alívio na inflação?
A inflação subiu 10% o ano passado e deve subir mais 5% este ano. É um aumento em cima de outro, não tem alívio. É uma inflação acumulada de 15% em dois anos. Alívio mesmo as pessoas só vão sentir quando encontrarem emprego e a renda começar a crescer mais do que a inflação. Isso não vai acontecer porque o próprio instrumento para conter o avanço da inflação é o aumento dos juros que não privilegia o investimento necessário à geração de emprego. Vamos viver um período de inflação persistente, acima da meta, com juro alto, que vai continuar causando mal-estar às famílias.
No ano passado, o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), que é a inflação para as famílias de baixa renda, subiu 10,16%, um pouco acima do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor) de 10,06%. Neste ano, o cenário complica para a baixa renda com o risco de os alimentos serem afetados pelo clima?
A inflação que a baixa renda enxerga é a inflação dos alimentos. Os mais ricos têm o gasto concentrado em serviços. Para a maioria da população, o que vale é a inflação de alimentos.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.