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Dólar à vista cai 0,62% com apetite estrangeiro na véspera do Copom

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Estadão Conteúdos

Com perda de 4,84% em janeiro, o dólar à vista deu sequência ao movimento recente de baixa no primeiro pregão de fevereiro, alinhado ao sinal predominantemente negativo da moeda americana no exterior. Uma vez mais, profissionais do mercado relataram fluxo externo de recursos para ativos domésticos e desmontagem de posições defensivas no mercado futuro por parte de fundos locais e investidores estrangeiros.

Segundo operadores, seguem firmes os prognósticos de continuidade de entrada de capital estrangeiro, em especial para renda fixa, por conta dos juros mais elevados. A perspectiva amplamente majoritária é que o Comitê de Política Monetária (Copom) anuncie na quarta-feira novo aumento da taxa Selic em 1,50 ponto porcentual, para 10,75% ao ano, e deixe a porta aberta para, pelo menos, mais uma elevação. Já há uma ala considerável de casas que prevê taxa básica no nível de 12% no fim do atual ciclo de aperto monetário.

Mesmo com entrada líquida de mais de R$ 20 bilhões para o mercado doméstico de ações em janeiro, a expectativa é de que mais dinheiro de fora venha para o Brasil, em meio ao movimento de rotação global de portfólio que favorece mercados “descontados” e o setor de commodities.

Tirando uma alta esporádica pela manhã, quando registrou máxima a R$ 5,3170, o dólar à vista trabalhou em queda firme ao longo de todo o dia, descendo na mínima até R$ 5,2668 já na reta final do pregão. No fim do dia, era cotado a R$ 5,2728 (menor valor de fechamento desde 16 de setembro), em baixa de 0,62%. Assim, nos últimos quatro pregões, o dólar acumula desvalorização de 3,09%.

Caso não haja uma valorização intensa da moeda americana no exterior, na esteira de uma postura mais dura do Federal Reserve, ou notícias muito negativas nos quadros político e fiscal doméstico, analistas acreditam que o real pode continuar a se valorizar no curto prazo.

“Tem espaço para o dólar voltar a níveis perto de R$ 5, se mantida a tendência de valorização das commodities e fluxo externo, além do cenário interno menos turbulento”, afirma o head de câmbio da Acqua-Vero Investimentos, Alexandre Netto, ressaltando que a moeda brasileira estava muito depreciada e agora se sobressai entre seus pares emergentes. “Certamente, um novo aumento da taxa Selic em 1,5 ponto vai deixar o carry trade ainda mais atraente e ajudar o real”.

A economista-chefe do Banco Ourinvest, Fernanda Consorte, também vê a possibilidade de Selic ainda mais elevada como um dos fatores primordiais para o tombo recente do dólar, ao lado da entrada de recursos para a Bolsa brasileira. “Diante do acirramento da inflação, o Banco Central tem reforçado uma postura mais dura. O dólar caiu de R$ 5,70 em fins do ano passado para menos de R$ 5,30, mas ainda está em um patamar muito elevado, o que não traz um alívio tão intenso para a inflação”, afirma Consorte.

Enquanto o fluxo pelo canal financeiro segue robusto, a balança comercial fraqueja. Dados divulgados nesta terça pelo ministério da Economia mostram que a balança fechou janeiro com déficit de US$ 176 milhões, menor do que os -US$ 220 milhões de janeiro do ano passado, mas acima da mediana de Projeções Broadcast (-US$ 165 milhões).

No exterior, o índice DXY – que mede o desempenho do dólar ante uma cesta de seis divisas fortes – operou em baixa, ao redor dos 96,400 pontos, com perdas mais significativas frente ao iene e à libra. O mercado espera as decisões de política monetária do Banco Central Europeu (BCE) e do Banco da Inglaterra (BoE), na quinta-feira (3).

Além de movimento de realização de lucros após a arrancada na semana passada, quando atingiu o maior valor desde junho de 2020, o índice DXY também reflete uma diminuição das apostas em uma ação mais drástica do Federal Reserve em relação ao ritmo de normalização da política monetária.

Discursos de dirigentes do BC americano na segunda-feira e nesta terça chancelam a perspectiva de início da alta dos juros em março, no ritmo de 0,25 ponto porcentual, e um total de três ou quatro altas ao longo de 2022. O tom duro do presidente do Fed, Jerome Powell, na semana passada chegou a ensejar apostas até de uma alta inicial dos juros em 0,50 ponto e elevações em todos os encontros do BC americano neste ano.

Presidente da distrital de Filadélfia do Federal Reserve (Fed), Patrick Harker, disse nesta terça considerar apropriado elevar o juro básico quatro vezes ao longo de 2022, com altas de 0,25 ponto porcentual. Harker afirmou que O BC americano poderia até promover uma elevação de 0,50 ponto, caso a inflação subisse vertiginosamente, mas ressaltou que está “menos convencido” de que este seria o passo adequado.

Em tom mais duro, o presidente do Federal Reserve de St. Louis, James Bullard, defendeu que o BC americano comece a redução do seu balanço de ativos já no segundo trimestre de 2022, mas negou que a instituição esteja “atrás da curva” ou atrasada na condução da política monetária, como aventado por parte dos analistas.