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Dólar cai pelo 3º pregão seguido e fecha no menor nível desde 1º de julho

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Estadão Conteúdos

O dólar emendou na sessão desta terça-feira (22) o terceiro pregão seguido de queda e desceu ao menor patamar desde o início de julho do ano passado. Operadores voltaram a identificar fluxo de recursos externos para ativos domésticos, em meio à rotação global de portfólios que favorece países produtores de commodities e com taxa de juros mais elevadas. No front doméstico, uma menor percepção de risco fiscal, após o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), dizer que as PEC dos Combustíveis no Congresso estão “definitivamente afastadas”, teria reforçado o apetite pelo real.

Apesar do braço de ferro entre Ocidente e Rússia, que teria supostamente enviado tropas à região separatista da Ucrânia, o dia foi de perda de força da moeda americana frente ao euro e à maioria das divisas emergentes. A fraqueza do dólar lá fora está ligada à crescente expectativa de que o Federal Reserve, premido pelas incertezas provocadas pelas tensões geopolíticas, vá optar por uma alta inicial da taxa de juros em 0,25 ponto porcentual em março. Também já há especulações em torno de redução do número de elevações dos Fed Funds ao longo deste ano. Hoje à tarde, o presidente dos EUA, Joe Biden, anunciou, entre outras medidas, que vai cortar o financiamento ocidental à dívida soberana russa – e acenou com sanções econômicas ainda mais rígidas caso a Rússia “escale as agressões” à Ucrânia. A União Europeia também fechou pacote de sanções contra os russos.

Por aqui, as expectativas são de que a taxa Selic, hoje em 10,75% ao ano, possa se aproximar de 13% – o que amplia ainda mais o juro real projetado em 12 meses e mantém um diferencial entre juros doméstico e externo em patamares elevados, atraindo capital de curto prazo para operações de “carry trade”.

Em queda desde a abertura dos negócios, o dólar rompeu a marca de R$ 5,05 no início da tarde. Com mínima a R$ 5,0451, registrada no fim do pregão, a moeda americana fechou em queda de 1,07%, a R$ 5,0521 – menor valor de fechamento desde 1º de julho do ano passado (R$ 5,0453).

Com o tombo nas três últimas sessões, o dólar já acumula queda de 4,78% em fevereiro e perda de 9,39% ao ano. O real é a divisa de melhor desempenho ante o dólar no mundo em 2022. Na sessão desta terça-feira, a moeda brasileira mais uma vez brilhou e teria liderado os ganhos entre emergentes não fosse pela forte recuperação do rublo, diante da avaliação de que as sanções do Ocidente foram brandas.

Apesar da forte apreciação do real, o head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, vê espaço para quedas adicionais do dólar, caso não haja um evento drástico no exterior. “Está na cabeça do investidor estrangeiro que o Brasil é um país de commodities e de juro alto, com taxa de juro real, entre 6% e 7%, a maior do mundo”, diz Weigt, chamando a atenção par ao fato de o Ibovespa subir hoje a despeito do tombo das bolsas em Nova York “O estrangeiro não está preocupado com fundamentos e o baixo crescimento. Ele está aproveitando uma janela de oportunidade que vai até abril ou maio”.

Para Weigt, o Fed deve iniciar a normalização da política monetária com um alta da taxa de juros em 0,25 ponto porcentual em março, uma vez que as taxas de inflação implícita mostram que o BC americano, a despeito da aceleração recente dos preços, ainda tem muita credibilidade. “O mercado acredita que o Fed vai conseguir debelar a inflação. Ele pode até acelerar a alta de juros para 0,50 ponto depois da alta de março, mas mesmo assim o diferencial de juros com o Brasil vai continuar enorme”, diz o tesoureiro.

Em evento no BTG Pactual, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, voltou a dizer que o Brasil saiu na frente no ajuste monetário e que tem sido reconhecido por isso. “Taxa de juros mais alta traz fluxos de dólares para o Brasil. A melhora no câmbio está ligada a movimento de rotação nos fluxos de investimentos”, disse Campos Neto, acrescentando que um aperto monetário mais rápido nos EUA pode “afetar fluxos financeiros com impacto negativo para emergentes”. Campos Neto afirmou que “abrir mão de receita não ajuda a inflação estrutural” e disse achar “curioso alguns países atacarem inflação persistente com medidas fiscais”, ressaltando que não estava falando do Brasil.

Mesmo com eventual enterro das PECs dos Combustíveis no Congresso, ainda estão em pauta projetos de lei relacionados a preços de combustíveis. E hoje o ministro da Economia, Paulo Guedes, anunciou a intenção de promover uma redução de 25% do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), com impacto de R$ 20 bilhões por ano. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), afirmou que a Casa não tem resistência a reduzir impostos federais sobre o combustível, mas ponderou que a medida precisa passar por uma avaliação. Pacheco admitiu que a votação do projeto sobre o tema, do senador Jean Paul Prates (PT-RN), inicialmente programado para amanhã, pode ficar para a semana do dia 8 de março.

Para economista-chefe do Coface para a América Latina, Patrícia Krause, o movimento de apreciação do real não seguirá por muito mais tempo, já que os ativos brasileiros, após seguidas valorizações, devem ficar menos atraentes em dólares. “Além disso, temos as incertezas no campo fiscal, com possível redução de imposto sem contrapartida, e as eleições presidenciais”, afirma.