O resultado superou até as expectativas mais pessimistas de analistas do mercado ouvidos pelo Projeções Broadcast, que esperavam alta mediana de 0,87%. A taxa em 12 meses subiu a 10,76%, também a mais elevada em seis anos. Com isso, analistas refazem projeções, afastando ainda mais a inflação da meta no ano.
O alvo do Banco Central este ano é 3,50%, com tolerância de 2,0% a 5,0%. A economista-chefe da corretora Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, deve revisar a sua estimativa de uma alta de 5,5% para perto de 6,0%. Ela reforça que ainda há riscos para cima no cenário, incluindo os preços de matérias-primas agrícolas e os efeitos de eventos geopolíticos sobre o barril do petróleo, que pode superar os US$ 100.
“Já não é segredo para o mercado que só vamos ver um IPCA abaixo de dois dígitos ao fim do segundo trimestre”, afirmou Camila, que conta com uma mudança em maio da bandeira tarifária que incide sobre a conta de energia, atualmente de “escassez hídrica”.
Já a Manchester Investimentos prevê que o IPCA encerre 2022 entre 6,00% e 7,00%. “A inflação brasileira continua pressionada pela recomposição de margens das cadeias produtivas”, avaliou Eduardo Cubas, sócio e chefe de alocação de recursos da Manchester. “A maior parte dos empresários teve aumento em seus custos de produção e ainda não conseguiu repassar tudo isso. Ainda tem muita recomposição de margem represada, e isso tende a continuar pressionando a inflação ao longo dos próximos meses”.
Cubas ressalta que a aceleração do IPCA -15 superior à esperada reforça a ideia de que a pressão da inflação doméstica não é tão passageira como muitos projetaram. Segundo ele, o encarecimento do petróleo, em meio à instabilidade geopolítica na Ucrânia, já contamina a inflação de curto prazo no Brasil. “Isso pressiona mais as cadeias logísticas”, observou.
O que mais pesou
Em fevereiro, os gastos com educação subiram 5,64%, grupo de maior impacto no IPCA-15, uma contribuição de 0,32 ponto porcentual. Os cursos regulares encareceram 6,69%. Subiu o custo para ensino fundamental (8,03%), pré-escola (7,55%), ensino médio (7,46%), creche (6,47%), ensino superior (5,90%), técnico (4,40%) e pós-graduação (2,93%).
Os gastos com alimentação e bebidas subiram 1,20%, uma contribuição de 0,25 ponto porcentual para o IPCA-15. A alimentação no domicílio encareceu 1,49%, com a alta de cenoura (49,31%), batata-inglesa (20,15%), café moído (2,71%), frutas (1,75%) e carnes (1,11%). As famílias pagaram menos por frango inteiro (-1,97%), arroz (-1,60%) e frango em pedaços (-1,31%). A alimentação fora do domicílio subiu 0,45%.
Os combustíveis registraram estabilidade, com aumentos no óleo diesel (3,78%) e na gasolina (0,15%) e recuos para o etanol (-1,98%) e o gás veicular (-0,36%). As famílias brasileiras gastaram 2,01% mais com veículos próprios: os automóveis novos subiram 2,64%; as motocicletas, 2,19%; e os automóveis usados, 2,10%.
Os artigos de residência subiram 1,94%, puxados por eletrodomésticos e equipamentos (3,46%) e mobiliário (2,45%). Dos nove grupos de despesas do IPCA-15, o único com deflação foi o de saúde e cuidados pessoais (-0,02%), com a queda no custo do plano de saúde (-0,69%) e dos itens de higiene (-0,16%).