Vindo de baixas em nove dos últimos dez pregões, o dólar teve uma manha instável, alternando altas e quedas. Na mínima, cerca de uma hora após a abertura, desceu para R$ 4,7281.
Operadores relataram entrada de fluxo estrangeiro em meio ao pico do petróleo no dia, com o barril tipo Brent tendo atingido o patamar de US$ 114,00. Após o otimismo da terça, houve recuo na percepção da possibilidade de um acordo iminente de paz entre Ucrânia e Rússia. A informação de que os russos pretendem diminuir atividade militares na capital ucraniana é vista com descrença no Ocidente.
A pressão vendedora rapidamente perdeu força e o dólar já trabalhava em alta no fim da manhã, na contramão do observado no exterior. No meio da tarde, tocou pontualmente o patamar de R$ 4,79, ao registrar máxima a R$ 4,7920 (+0,72%). No fim do pregão, era cotado a R$ 4,7872, em alta de 0,62%. Em março, a moeda ainda perde 7,15%, praticamente metade de toda a desvalorização em 2022 (-14,14%).
“O dólar até caiu pela manhã com as commodities para cima, mas depois nos descolamos lá de fora, com o mercado começando a realizar lucros”, afirma o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, ressaltando que, após ser muito castigado no ano passado, o real apresenta ganhos expressivos em 2022 em meio à arrancada das commodities. “O dólar tende a apresentar um pouco de volatilidade no fim do mês, com a disputa da formação da taxa ptax e rolagem de posições.”
A taxa ptax desta quinta-feira, 31, será utilizada para ajustes de contratos futuros e servirá de referência para confecção de balanços e demonstrações financeiras do primeiro trimestre.
No exterior, o índice DXY – que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes – operou o dia inteiro em queda, abaixo dos 98,000 pontos, sobretudo em razão das perdas da moeda americana frente ao iene japonês e ao euro. A inflação ao consumidor na Alemanha subiu 7,3% em março (na comparação anual), bem acima da previsão dos analistas, o que reforça a perspectiva de postura mais ativa do Banco Central Europeu (BCE).
Por aqui, o mercado recebeu sem sobressaltos os indicadores do dia. Do lado da inflação, após subir 1,83% em fevereiro, o IGP-M desacelerou para +1,74%, ficando, porém, acima do teto de Projeções Broadcast, que iam de 0,52% a 1,70%. Em 12 meses, o IGP-M acumula variação de 14,77%.
No campo fiscal, o governo Central – Tesouro Nacional, Banco Central e INSS – registrou déficit de R$ 20,619 bilhões em fevereiro, acima da mediana de Projeções Broadcast (-R$ 16,20 bilhões). Além disso, fontes disseram ao Broadcast que o governo estuda um reajuste de 5% para todo o funcionalismo público a partir de julho, o que demandaria corte de outras despesas em razão dos limites impostos pelo teto de gastos.
Para Velloni, da Frente Corretora, o dólar já chegou ao seu piso no mercado doméstico de câmbio e não tem espaço para uma nova rodada de queda. À medida que se aproxima o pleito presidencial e aumentam as pressões por gastos, o mercado deve adotar uma postura mais defensiva. “O cenário interno é ruim, com PIB muito fraco, inflação alta e as eleições. Não vejo o dólar se mantendo nesses patamares. Deve voltar para a casa dos R$ 5,00”, diz.
O economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, vê o dólar atualmente “bem precificado”, espelhando a alta forte das commodities, os juros locais elevados, que atraem capital, e o retorno de capitais de brasileiros que estavam no exterior para ativos domésticos a partir de fevereiro. “Pode ter mais apreciação do real, se pressão das commodities continuar. No sentido contrário, tem a política monetária americana, com o Fed (Federação Reserve, o BC dos EUA) sinalizando que vai agir de forma mais rápida. Isso pode alterar um pouco a dinâmica do dólar”, afirma Lima.