Segundo o Ipea, a economia começou o ano sob impacto do aumento de contaminações da covid-19, por causa da variante Ômicron, mas a onda mais recente da doença foi rápida. Fevereiro e março foram meses de recuperação, de forma que os pesquisadores do Ipea estimam crescimento de 0,5% no PIB do primeiro trimestre ante o último de 2021.
“Apesar disso, acreditamos que a economia continuará sendo afetada por um conjunto de fatores que tendem a desacelerar seu ritmo de crescimento ao longo dos próximos trimestres de 2022. De um lado, os índices de inflação continuam surpreendendo para cima, o que afeta a renda real das famílias e seu consumo. Os efeitos do ciclo de aperto monetário ainda se farão sentir por algum tempo, resultando em perspectivas menos robustas de crescimento no mercado de crédito”, diz um trecho do relatório divulgado nesta quinta-feira, 31, pelo Ipea.
Por causa da seca na região Sul na virada do ano, o crescimento do PIB da agropecuária foi revisto para apenas 1,0%, ante 2,8% anteriormente. O PIB industrial também foi revisado para baixo. Antes, o Ipea estimava variação nula, agora, espera uma queda de 0,8%.
“A desorganização das cadeias de abastecimento globais persiste, o que, aliado aos efeitos defasados da política monetária, não enseja prognóstico muito favorável”, diz o relatório do Ipea.
Nesse quadro, a economia será puxada, em 2022, pelo setor de serviços. A projeção para o PIB do setor foi revisada para cima, para uma alta de 1,8%, ante a estimativa de 1,3%, anteriormente.
“Superada a piora ocorrida no mês de janeiro, quando o aumento de casos de covid-19 voltou a reduzir os níveis de mobilidade urbana, esperamos que os efeitos da pandemia diminuam, permitindo o fechamento do hiato daqueles segmentos mais fortemente atingidos pela crise sanitária. A recuperação do setor de serviços deverá sustentar o bom desempenho dos indicadores de ocupação, gerando um efeito positivo na demanda doméstica”, diz o relatório do Ipea.
Assumindo que a incerteza será reduzida com o fim do conflito armado no Leste Europeu ao longo do ano e que a desaceleração da inflação permitirá o início de um ciclo de alívio na política monetária a partir da virada de 2022 para 2023, a projeção de crescimento do PIB no próximo ano está em 1,7%. Segundo os pesquisadores do Ipea, essa projeção também considera “a manutenção de um arcabouço de regras fiscais compatível com o compromisso com a disciplina fiscal, mantendo sob controle o risco associado à evolução das contas públicas”.
“Como qualquer previsão em horizontes maiores de tempo, esta, em particular, embute riscos em relação à não concretização dos cenários mencionados, cuja natureza é de neutralidade nas condições econômicas. Cenários mais otimistas no que se refere, por exemplo, a uma agenda legislativa mais robusta em 2023 resultariam em uma previsão maior via indicadores de confiança. O mesmo efeito se faria presente com a redução mais rápida dos níveis de inflação, que resultaria no fim do aperto monetário no Brasil e nas principais economias. Por sua vez, mudanças desfavoráveis na percepção do risco fiscal teriam o efeito contrário”, diz o relatório do Ipea.