A ida de Galípolo e Gleisi ao jantar, assim como a aproximação do ex-presidente com Geraldo Alckmin, é um indício de que o PT busca um discurso menos radical na economia. O encontro, organizado pelo grupo Esfera Brasil, reuniu nomes como Abílio Diniz (Grupo Península), André Esteves (BTG Pactual), Flávio Rocha (Riachuelo) e Eugênio Mattar (sócio-fundador da Localiza).
Galípolo não concedeu entrevista, mas, segundo uma fonte próxima, tem se empenhado em reduzir a tensão entre Lula e a Faria Lima, avenida símbolo do setor financeiro.
Tendo presidido o Banco Fator até 2021, Galípolo, hoje com 39 anos, é professor da UFRJ, pesquisador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) e conselheiro da Fiesp. Trabalhou na Secretaria Estadual de Economia e Planejamento, no governo de José Serra. Há mais de 10 anos é próximo ao PT – em 2010, colaborou na construção do plano de governo do ex-ministro Aloizio Mercadante.
Transitar no setor público, na academia e na área financeira é uma vantagem na articulação política, avalia o economista-chefe do Fator, José Francisco de Lima Gonçalves. A chegada de Galípolo ao comando do Fator, em 2017, coincidiu com o fim de uma crise econômica, a troca de governo por impeachment e uma mudança estrutural no mercado financeiro. “Essa experiência dá uma visão menos ingênua na execução política”, afirma o ex-colega. “O Galípolo está em um time do qual também faço parte, que entende ser preciso ajudar o mercado a se viabilizar, mas com limites. Não me venha dizer que precisa fazer reformas e o mercado faz o resto, porque isso simplesmente não funciona.”
Crítica ao teto
“O economista é como um navegador do século 16: só enxerga uma milha e meia pela frente”, afirmou Galípolo, em live recente. Ele vê com cautela a independência do Banco Central e o teto de gastos. Para ele, o País não deveria ter um regime fiscal pró-cíclico, ou seja, que acaba acentuando o ciclo econômico para o bem ou para o mal. Entende que o mais indicado, quando a economia piora, seria expandir os gastos públicos, e não cortar como exige o teto. Nas suas palavras, o teto ruiu e é preciso pensar em uma regra fiscal que tenha horizonte temporal mais amplo.
A regra fiscal do teto de gastos foi adotada em 2016 durante o governo de Michel Temer justamente para restabelecer a credibilidade das contas públicas depois de anos de gastos crescentes, durante os governos de Dilma Rousseff. A ex-presidente também seguia a visão de que as despesas do governo poderiam ser uma medida contracíclica, para estimular a economia durante períodos de recessão.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.