“Depois de mais de uma década lutando para atingir a meta de inflação, os bancos centrais agora enfrentam o problema oposto. A mudança no ambiente inflacionário foi notável”, disse Carstens, ao ministrar a palestra “O retorno da inflação”, no Centro Internacional de Estudos Monetários e Bancários, em Genebra, na Suíça.
Segundo ele, novos fatores estão surgindo e pressionam para cima a inflação. Ele citou impactos advindos da guerra, que têm se refletido nos mercados de energia, alimentos e muitas outras commodities e também dos mercados de trabalho, com as pessoas procurando compensar as reduções reais de salários corroídos pelo aumento de preços nas economias. Não bastasse isso, fatores estruturais que mantiveram a inflação baixa nas últimas décadas podem diminuir à medida que a globalização se reduz, explicou.
A maior atenção em relação à inflação elevada, segundo ele, é para as economias desenvolvidas como, por exemplo, os Estados Unidos. Segundo Carstens, quase 60% desses países estão com inflação anual acima dos 5%, um aumento de mais de 3 pontos porcentuais em comparação com as metas típicas para o indicador. “É a maior desde o fim da década de 1980”, disse.
As economias emergentes também têm visto o aumento dos preços, de acordo com o porta-voz do BIS. Na maioria desses países, a inflação está acima dos 7%. “Além de um curto período em torno da Grande Crise Financeira, refletindo fatores muito específicos e de curta duração, esta é a maior inflação em mais de duas décadas”, afirmou ele.
O que explica a inflação alta
Ex-presidente do Banco Central do México, Carstens disse que o aumento da inflação resulta da confluência de três fatores: um mercado surpreendentemente forte em termos de demanda agregada, com as economias se expandindo mais rapidamente da pandemia do que em outras crises; demanda forte em bens e serviços e, por último, uma oferta que não consegue acompanhar o aumento da demanda.
“A economia mundial está em uma situação diferente da vista três anos atrás por causa da pandemia, da extraordinária resposta fiscal, monetária e regulatória a ela e da guerra na Ucrânia”, resumiu o porta-voz do BIS.
Segundo ele, o risco de um ambiente inflacionário persistente traz implicações para a atuação dos bancos centrais e suas políticas monetárias e fiscais. As autoridades poderão, contudo, ter de rever como agem em relação ao aumento de preços causado do lado da evolução da oferta. “A boa notícia é que os bancos centrais estão atentos aos riscos (da inflação)”, afirmou, acrescentando: “Ninguém quer repetir os anos de 1970”.
Carstens disse que “parece claro” que os juros precisam subir para níveis mais apropriados para o ambiente de inflação mais alta. As taxas, conforme ele, terão de ficar acima dos “patamares neutros”, quando é possível combater os preços elevados sem diminuir a atividade.
“O ajuste às taxas de juros mais altas não será fácil”, avaliou o porta-voz do BIS, mencionando que famílias, empresas, mercados financeiros e governos se acostumaram demais a baixas taxas de juros e condições financeiras acomodatícias, refletidas também em “níveis historicamente elevados” da dívida privada e pública. “Será um desafio arquitetar uma transição para níveis mais normais e, no processo, definir expectativas realistas sobre o que a política monetária pode oferecer”.
Carstens disse que a chave para o crescimento sustentável das economias não passa por uma política fiscal ou monetária expansionista. Para ele, deve-se fortalecer a capacidade produtiva dos países. “De fato, isso está bem atrasado. Os bancos centrais fizeram mais do que sua parte na última década. Agora, é a hora de outras políticas tomarem o bastão”, concluiu.