“O Fed não deve atrapalhar o capital externo. Não deve ser um grande problema, só se a economia americana entrar em colapso, o que não está no cenário curto prazo, pelo menos. O Ibovespa pode ir a 130 mil pontos, dependendo do fluxo e das commodities”, diz Joaquim Sampaio, portfólio manager e sócio da RPS Capital. “Se os preços das commodities caírem e o gringo parar, o fluxo pode morrer”, pondera.
A expectativa de aceleração do juro americano vem após o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) subir o tom, depois de aumentar os juros em 0,25 ponto porcentual, à faixa entre 0,25% e 0,50%, no dia 16 de março. “Se concluirmos que é apropriado agir de forma mais agressiva, elevando a taxa dos Fed Funds em mais de 25 pontos-base em uma reunião ou reuniões, o faremos”, afirmou o presidente da instituição Jerome Powell, no dia 21 do mesmo mês.
“Desde a comunicação do Fed mais dura, o mercado está num ritmo de realização. A tendência com relação ao câmbio ficou mais leve e o Ibovespa retraiu”, afirma Eduardo Carlier, gestor responsável pela estratégia de renda variável da AZ Quest. “Tende a ter uma pausa ingresso de capital externo. Talvez vejamos um atuação um pouco diferente de um fluxo generalizado para papéis de primeira linha como commodities e bancos, que se viu inicialmente”, emenda.
Com perspectiva de enxugamento do balanço patrimonial pelo Fed, é “natural” que ocorra um enxugamento da liquidez, observa o economista Silvio Campos Neto, sócio da Tendências Consultoria. “Claro que aqui tem uma taxa atrativa, mas o risco vai nessa direção. Um nível de 12,75% expectativa é que Selic suba 1 ponto em maio já é bastante atrativo e o Banco Central terá de olhar o outro lado atividade fraca, e não só inflação elevada”, diz.
Hoje, devido à persistência inflacionária, já há projeções de Selic na casa de 14% no fim do ciclo de aperto monetário. Ainda, sem previsão de um fim da guerra na Ucrânia, a perspectiva é que os preços das commodities ainda sigam em níveis elevados.
Em termos relativos, o Ibovespa aparece como opção de investimento interessante. “E isso foi o que fez com que o estrangeiro viesse para cá. Tem a percepção de Bolsa barata, mas ele também ganha na valorização do real”, diz o gestor da AZ Quest, pontuando que novas altas da Selic podem reforçar o chamado carry trade.
Luiz Roberto Monteiro, operador da mesa institucional da Renascença, acredita que o ingresso de investimento externo continuará, a despeito do aperto monetário esperado não só nos EUA, mas em outras partes do globo, como Europa. “Pode ter a famosa arbitragem, com investidores se beneficiando de Selic a 13% previsão. Por isso, o dólar tem cedido, em meio à atratividade de operações de carry trade.”
Recentemente, o Bank of America (BofA) elevou sua projeção para o índice Bovespa de 125 mil pontos para 135 mil pontos, tendo como principal argumento otimismo com os preços de commodities como petróleo, minério de ferro e celulose.
Um pouco antes, a Guide já havia aumentado a expectativa de 120 mil pontos para 130 mil pontos no término de 2022. Já o Goldman Sachs não descarta que o principal indicador da B3 atinja 131 mil pontos no final do ano, mas opta por manter o preço-alvo em 118 mil pontos. Apesar da avaliação de que as commodities sustentarão o índice, o banco americano argumenta que o desempenho do Ibovespa parece mais próximo de um “repique tático” em momento de grande volatilidade mundial.
O próprio presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse recentemente que o País está bem posicionado para um possível efeito da política monetária americana no fluxo. “Nosso cenário não é de reversão desse movimento de entrada, mas estamos em um cenário de muita incerteza”, ponderou.
Dados da B3 mostram que a saída dos estrangeiros começou antes da virada do mês. Em 31 de março, os investidores estrangeiros retiraram R$ 7,150 bilhões, após correção na metodologia de publicação de informações do segmento de renda variável. Com isso, o montante registrado em 2022 foi reduzido de R$ 91,1 bilhões para R$ 64,1 bilhões. No dia 13 de abril, o investidor externo retirou R$ 322,166 milhões, elevando para sete o número de pregões de retirada, com o montante deste mês ficando deficitário em R$ 1,754 bilhão. Contudo, em seguida, (dias 14 e 18), houve ingresso. Ainda assim, em abril, deixaram a B3 R$ 101,908 milhões. No acumulado de 2022, porém, o saldo está positivo em R$ 65,226 bilhões.