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Como o BTG correu contra o tempo para entregar três usinas ao governo

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Estadão Conteúdos

Em 2021, com a estiagem histórica pela qual o País passava, o risco de apagões era iminente. Sem previsão de chuvas no horizonte, o governo realizou um leilão de energia emergencial para evitar que o pior dos cenários se concretizasse. Como a situação era de risco máximo, as usinas térmicas – mais poluentes e caras, mas que não dependem do clima – foram priorizadas. O BTG Pactual entrou no jogo por meio de empresas nas quais investe a partir de fundos. Após uma corrida contra o tempo, três projetos deverão entrar em operação a partir de junho.

Construir uma usina não é missão simples, mas todas as companhias que venceram o leilão tiveram um desafio ainda maior: elas se comprometeram a entregar as usinas em seis meses. O governo ainda concedeu prazo extra de três meses, com pesadas multas. Após esse período, que termina em agosto, o governo poderá romper o contrato e não pagar nada às empresas.

Os três projetos do BTG – Tevisa, Linhares e Povoação, todas no Espírito Santo, que somam a geração extra de 148,5 MW/hora – ficaram a cargo do executivo Marcelo Oliveira. Para colocar usinas dessa potência em pé, leva-se cerca de um ano. Por isso, quando se sagrou vencedora no leilão, a Tevisa já contava com os três meses extras oferecidos pelo governo. Agora, com a previsão de entregar os projetos em sete meses, em vez de seis, terá de desembolsar R$ 230 milhões a mais, ou cerca de 40% do valor total dos projetos.

Desde o início, as usinas já corriam contra o tempo. Então, outros problemas apareceram. No total, o investimento dos fundos Vulcan e BTG Infra Dividendos será de R$ 1,1 bilhão. Em um período de construção normal, a conta seria 30% menor. Esse aumento ocorreu por uma série de fatores. O principal foi a negociação com a empresa finlandesa Wärtsilä.

FURANDO A FILA. Uma das poucas fornecedoras de motores para usinas térmicas, a empresa estava com fila de espera para atender à demanda global. Por isso, o projeto Linhares precisou colocar mais dinheiro na mesa para conseguir os produtos rapidamente – basicamente, os projetos do banco “furaram a fila”, remunerando a Wärtsilä para que ela pagasse multas a clientes que tiveram as entregas atrasadas.

Após essa resolução, outro problema apareceu no radar: a guerra entre a Rússia e a Ucrânia. O risco passou a ser logístico, já que a Finlândia é “vizinha” da região do conflito. A estratégia foi antecipar todas as entregas. As peças, que seriam inicialmente entregues em pacotes, passaram a ser enviadas separadamente. Resultado: outra conta extra de dezenas de milhões de reais.

Por aqui, a ordem foi expandir os turnos para que as obras ficassem prontas a tempo – o trabalho ocorria 20 horas por dia, nos sete dias da semana. “Tivemos mais gastos trabalhistas por conta do prazo. Os custos das obras cresceram muito, mas tudo estava precificado pelo retorno que está no contrato”, diz Oliveira.

Olhando para o longo prazo, a conta será positiva para a empresa e o BTG. Com a entrada dos 148,5 MW/h nas três operações, as usinas terão capacidade total de 527,1 MW/h, tendo em vista que tanto Linhares quanto Tevisa já tinham operações antes da energia contratada no leilão emergencial. No ano passado, no auge da utilização das usinas movidas a gás, o grupo faturou quase R$ 1,9 bilhão. Os novos projetos, que representam menos de um terço da capacidade total, vão somar R$ 2,36 bilhões de receita até 2025, quando o contrato de fornecimento emergencial termina.

POLÊMICA. Apesar de o BTG ter precificado o atraso, o cenário não deverá ser o mesmo para todas as empresas que venceram os leilões realizados pelo governo. A data prevista para a entrega das obras era dia 1.º de maio. Nesse prazo, apenas 1 das 17 usinas contratadas no leilão de energia foi entregue. Das 14 térmicas, incluindo as do BTG, nenhuma foi finalizada no prazo inicial.

Para se ter uma ideia, sete delas ainda não tiveram obras iniciadas, segundo dados da Agência Nacional da Energia Elétrica (Aneel). Esse é mais um fator que gerou críticas sobre o leilão, que recebeu uma chuva de contestações por estimular a construção de térmicas em um momento no qual as discussões sobre o aquecimento global ganham mais força.

Para Cláudio Frischtak, especialista em infraestrutura e fundador da consultoria Inter.B, agora é fácil criticar o governo federal pelo leilão de valores tão mais altos do que o padrão. Porém, ele ressalta que, à época, a situação era de risco total. “Não quero ser engenheiro de obra pronta, apesar de pensar que esses leilões deveriam ter sido feitos bem antes da crise.”

Segundo ele, apesar do crescimento das energias renováveis na matriz energética brasileira, é importante que também existam térmicas para suprir a necessidade em momentos mais difíceis. “Nossa matriz está passando por transformações, e daqui a 20 anos teremos uma maior quantidade de energias renováveis, diminuindo o risco de apagões. Mas, até lá, as usinas térmicas são necessárias para equilibrar o sistema.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.