Segundo Serra, há fatores conjunturais e estruturais para um desempenho melhor da economia brasileira. Na conjuntura, ele comentou que teve dificuldade de entender as projeções iniciais muito negativas para o PIB deste ano. “Crédito continua subindo a dois dígitos sem desacelerar ainda. Se o crédito e a renda estão bem, então há demanda positiva.”
Além disso, ainda no cenário conjuntural, destacou que o juro real só entrou em um campo neutro no terceiro trimestre de 2021 e que os dados de atividade atuais ainda respondem ao momento de juro do início do ano passado, quando estava em terreno estimulativo.
Mas Serra também avaliou que há um fator estrutural por trás do desempenho melhor da economia brasileira: o investimento privado. Ele comentou que começa a fazer efeito mudança da economia iniciada em 2016 de maior direcionamento ao investimento privado. “Investimento brasileiro se recuperou mais rápido que o dos nossos pares. Investimento privado está no pico histórico enquanto governo não tem capacidade de investir. Tem fatores estruturais que não estão bem entendidos.”
Inércia inflacionária
O diretor de Política Monetária do Banco Central destacou ainda que a inércia inflacionária “ficou gigantesca” ao se referir ao cenário de preços de serviços. “A inflação de serviços vem do hiato do mercado de trabalho e da inércia, que ficou gigantesca”, disse, citando a herança de indexação do período de hiperinflação no País.
Nesse contexto, Serra admitiu que o sacrifício de atividade para controlar a inflação tem que ser maior. “Com economia indexada, sacrifício de atividade precisa ser maior para combater inflação”, disse.
Hiato aberto
O diretor de Política Monetária do Banco Central afirmou também que a economia brasileira não deve crescer acima do potencial, “seja lá qual for”, em 2023 diante do nível de juros restritivo. “É difícil imaginar um 2023 com crescimento acima do potencial, ciclo de juros traz demanda para baixo”, disse.
Ele destacou que o intuito da política monetária é justamente manter o hiato do produto aberto para a inflação convergir à meta. “Se não a inflação não vai cair.”
Serra ainda avaliou que, em sua visão, o mercado de trabalho brasileiro não está apertado. “Quando inflação começar a cair, pode voltar a haver aumentos reais de salários.”
O diretor do BC também afirmou que a o consumo de bens no Brasil já diminuiu, mas o efeito sobre a inflação só deve ser observado quando isso acontecer em nível global. “Preços de bens no Brasil continuam respeitando a pressão global.”
Efeito negativo sobre crescimento
Bruno Serra tentou minimizar uma correlação imediata entre uma taxa Selic que deve ultrapassar 13% e um forte efeito negativo sobre crescimento da economia do Brasil. Segundo Serra, a Selic é uma variável de ajuste e outros fatores podem favorecer a expansão do PIB do País.
Em relação aos fatores positivos para o crescimento, apesar da Selic restritiva, Serra citou o crédito e ações de competição da agenda BC#. Para ele, uma Selic a 13% é uma taxa para um período específico, em que é preciso desinflacionar a economia.
“No ciclo de crescimento do PIB brasileiro entre 2004 e 2012, a Selic média foi maior que 12%. Selic ficou em torno de 6% antes da pandemia, e atividade não tinha vetor de crescimento. Selic de 13% é para um período específico em que precisamos manter o hiato aberto”, disse ele, completando que, após controlar a inflação, o juro deve convergir para o nível que o BC considera neutro hoje, de cerca de 7% (real em 3,5%).
Serra ainda comentou que, para esse período específico, em que a inflação “em dólares” está em 8%, todos os BCs do mundo precisam fazer um trabalho de equipe, em que o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) é o “capitão do time”, para trazer a demanda global para baixo.
“O Fed tem desafio adicional do impacto em ativos globais, que emergentes não têm. Tudo o mais constante, Fed precisará fazer ciclo bastante longo para o padrão histórico. Há muitos fatores e canais de transmissão fora da alçada do Fed, que tende a ser cauteloso”, considerou o diretor do BC.