Campos Neto lembrou que mercado mudou expectativa de inflação para 2022, mas não para 2023 e 2024. “É como se tivesse medidas do governo pressionando a inflação para baixo, para os componentes dos anos subsequentes são mais forte que a inércia da queda do ano corrente”, avaliou.
Para ele, já é possível ver uma desaceleração nos gargalos de produção de alguns produtos, como semicondutores, além da normalização dos fretes internacionais. “Grande parte dos países ainda tem expectativa de inflação acima da meta em 2023.”
Persistência e disseminação
Campos Neto disse também que, com a mudança de nível na inflação mundial, há também maior persistência e disseminação da alta de preços. “Começamos a ver um mundo de inflação mais alta e a inflação está mais espalhada. Mesmo em países desenvolvidos onde a inflação é mais concentrada em energia, começamos a ver que está espalhando na cadeia”, afirmou.
Para ele, há uma dicotomia nos Estados Unidos entre inflação em alta e atividade que começa a cair. “Nos Estados Unidos, começamos a ter pequena volta da inflação, mas núcleos seguem altos. Isso tende a ser temporário, mas a questão é o quão temporário será”, completou.
Inflação da energia
O presidente do Banco Central disse ainda que as medidas tributárias tomadas pelo governo nos últimos meses já fizeram com a inflação de energia no Brasil tenha cedido bastante. No evento promovido pelo Instituto Millenium, ele lembrou que o consumo de bens aumentou durante a pandemia, enquanto o consumo de serviços caiu. “Para produzir o mesmo valor agregado em bens, gasta-se cinco vezes mais energia do que o necessário em serviços”, repetiu.
Ele citou ainda os efeitos da guerra entre Ucrânia e Rússia nos preços globais de commodities energéticas, além da redução nos investimentos de geração de energia nos últimos anos.
Política monetária
Campos Neto disse também que as principais economias do mundo continuam subindo os juros para tentar conter a inflação e repetiu que o Brasil saiu na frente neste processo. “Os únicos lugares que mercado não precifica mais alta de juros são o Brasil e Japão, e no caso do Japão por uma questão muito específica”, afirmou.
Nesse sentido, ele pontuou que o mundo está claramente desacelerando em termos de atividade, enquanto o Brasil tem tido revisões para cima nas projeções para o PIB de 2022. “Estados Unidos, Europa e China estão claramente desacelerando. A probabilidade de recessão mundial é alta, mas como a mão de obra mudou estruturalmente é muito difícil de comparar com o passado”, completou.
Indexação
O presidente do Banco Central avaliou ainda que a indexação no Brasil caiu bastante, mas lembrou que o País ainda tem um histórico grande de indexação. “Exatamente porque a economia brasileira é mais indexada que se leva isso em consideração ao se tomar decisões. Todo banqueiro central pode cometer dois erros, ou fazer demais ou não fazer o suficiente. Todo banqueiro central trafega entre esses dois erros, tentando não cometer nenhum. Em um país pouco indexado, posso tomar um pouco mais de risco e ficar um pouco atrás (da curva). Mas não é o caso do Brasil. Aqui, erro de deixar inflação voltar e gerar indexação rápida acaba gerando recessão grande na frente. Já vimos isso no passado”, comentou.