O diretor de controle e planejamento da companhia, Daniel Beneton, afirmou que o resultado financeiro foi o item de maior impacto. “Não exatamente porque o resultado neste ano foi alto, mas porque no primeiro semestre de 2021 sofremos bastante com os indexadores, principalmente o IGP-M”, disse ele ao Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.
A maior gestora de previdência privada do País teve receita financeira de R$ 104,1 milhões de janeiro a junho, revertendo despesa de R$ 393,3 milhões no mesmo período do ano passado, causadas pelo descasamento entre o IGP-M e o IPCA. Com antigos planos corrigidos pelo índice da FGV, a Brasilprev teve de recorrer a uma capitalização para ampliar a proteção do balanço.
Neste ano, o efeito se dissipou, com os dois índices praticamente iguais em 12 meses (10,08% e 10,07%, respectivamente, até julho). Adicionalmente, com a capitalização feita no ano passado, a Brasilprev ampliou a exposição de suas aplicações financeiras ao IGP-M, comprando, por exemplo, títulos do Tesouro corrigidos pelo índice, as NTN-Cs, no mercado secundário.
Por outro lado, a elevação da curva de juros futura teve impacto negativo, com a marcação a mercado negativa de parte da carteira da gestora. “O resultado ainda foi mais baixo do que gostaríamos”, afirmou Beneton.
Diversificação
No lado operacional, as receitas de planos de previdência da gestora somaram R$ 24,8 bilhões na primeira metade do ano, um crescimento de 12,8% na comparação anual. Primeira colocada em arrecadação, a Brasilprev também mantém a liderança em reservas, com R$ 330,3 bilhões em junho, 4,3% acima do número visto em junho de 2021.
A taxa de gestão média colhida nos planos ficou próxima à estabilidade, segundo Beneton, o que também reflete o cenário de juros mais altos. A Brasilprev avançou, em 2021, na diversificação de alocação dos ativos dos clientes, chegando a um terço deles em fundos multimercado, que têm taxas maiores.
Com o aumento dos juros, os fundos de renda fixa, de menor taxa, ficaram mais atrativos. “Há pressão, e enquanto houver uma taxa de juros no nível que estamos vendo, essa pressão vai continuar. Mas o nível de realocação para fundos de renda fixa reduziu a um porcentual relativamente pequeno”, destacou Beneton.
De acordo com ele, a aposta da Brasilprev na diversificação continua. A gestora tem buscado orientar os clientes sobre o potencial de ganhos a longo prazo de fundos multimercado, e gere mais de R$ 17 bilhões em fundos com casas parceiras – são 21, até aqui. “A diversificação prevê uma manutenção e até um aumento da alocação em multimercado.”
Saques
Outro desafio do setor têm sido os resgates, que continuam acontecendo em meio a um cenário econômico desafiador. O mapeamento da Brasilprev aponta que entre os principais motivos para a retirada dos recursos estão o pagamento de contas e o financiamento de imóveis.
A gestora afirma que os resgates arrefeceram no segundo trimestre do ano em relação ao primeiro, e considera que as perspectivas à frente são de uma melhora ainda maior. “Se entendermos o nível adequado fora de um ambiente de pandemia e de famílias com maior endividamento, temos bastante evidência para acreditar que esse comportamento deve se estabilizar em um futuro próximo”, pontua o diretor.
O executivo não vê impactos diretos da inflação sobre a arrecadação e os saques da gestora. “Acho que o impacto é muito mais na preocupação em se preparar melhor para o futuro.”
Novos canais
Em linha com a BB Seguridade, que tem o avanço fora dos canais do Banco do Brasil como norte estratégico, a Brasilprev tem buscado novos balcões. Um dos vetores são os corretores – a base cadastrada quase dobrou, segundo Beneton. Outro, bancos digitais. No primeiro semestre, a gestora anunciou a primeira parceria, com o Modal.
O CFO não revelou quanto esses canais representam nas vendas da companhia. Entretanto, afirmou que há efeitos relevantes na venda de planos empresariais, por exemplo. Nos planos individuais, a empresa começa a avançar na compreensão dos produtos de maior apelo.
Atualmente, 89,8% da carteira da Brasilprev é de planos individuais. Os 10,2% restantes estão em planos empresariais.