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Com ajuda do câmbio, taxas têm viés de baixa, apesar de exterior negativo

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Estadão Conteúdos

Os ativos domésticos resistiram à pressão negativa vinda dos mercados europeus e, no caso dos juros futuros, as taxas oscilaram ao redor da estabilidade, com viés de baixa na maior parte da sessão, mas também com liquidez comprometida pela falta da referência das bolsas americanas. Nesta segunda-feira foi feriado do Dia do Trabalho nos Estados Unidos. O eventual impacto do aumento dos preços do petróleo acabou sendo neutralizado pelo alívio no câmbio, com o real sendo beneficiado pelo avanço das commodities. Ainda, o cenário positivo para a inflação no curto prazo no Brasil ajudou a proteger a curva do mau humor no exterior.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 12,82%, de 12,84% no ajuste de sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2025 passou de 11,70% para 11,69%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 11,45%, de 11,47%.

Como destacou o economista-chefe do Banco Original, Marco Caruso, no podcast Diário Econômico, a ausência de Wall Street deixa os preços por aqui a mercê de fluxos pontuais, mas, com o cenário externo mais negativo que o local, “tirar o gringo da equação” acaba ajudando.

Na Europa, a crise energética recrudesceu, com o corte de fornecimento de gás russo fazendo disparar o preço do combustível e contaminando as cotações do petróleo. Com isso, aumentam as pressões inflacionárias e sobre o Banco Central Europeu (BCE), que não deve, na reunião de quinta-feira (8), ter como escapar do aumento de 75 pontos-base no juro, ainda que colocando a economia em risco. “Há dois setores que espalham crise: bancário e de petróleo. A equação global segue complexa”, comentou Caruso.

Além da Rússia, ajudou a puxar o petróleo para cima a decisão da Opep+ de reduzir em 100 mil barris por dia a produção a partir de outubro. Embora o mercado já trabalhasse com essa possibilidade, a confirmação do corte elevou a preocupação sobre a oferta depois da Rússia cortar o gás para a Europa. O barril do Brent, parâmetro para os preços da Petrobras, subiu quase 3%, fechando em US$ 95,75 no contrato para novembro.

O petróleo em alta traz viés inflacionário para o mundo todo, mas, sendo o Brasil exportador, o real foi uma das poucas moedas no dia a ter desempenho positivo ante o dólar, o que ajudou a ancorar a curva, especialmente quando o dólar futuro para outubro inverteu o sinal para queda no começo da tarde.

Após quatro sessões seguidas de baixa, um dia sem Nova York e com agenda doméstica esvaziada representaria, em tese, oportunidade para um movimento de realização de lucros, mas o estrategista-chefe da Necton Investimentos, Felipe Beckel, afirma que as expectativas de inflação de curto prazo bem menos pressionadas têm levado o mercado a zerar posições especulativas e a adiar ajustes. “Estou surpreso, pois olhando lá fora parece que vem mais pressão”, afirmou Beckel.

No Boletim Focus desta segunda, a estimativa para o IPCA foi reduzida de 6,70% para 6,61%. Para 2023, a mediana vêm caindo paulatinamente, para 5,27%, de 5,30% na pesquisa anterior. Cada vez mais ganhando espaço no horizonte de política monetária, a mediana para o IPCA de 2024, ao contrário, subiu, de 3,41% para 3,43%. No que diz respeito à Selic, a mediana para o fim de 2022 permaneceu em 13,75%, mas o mercado agora trabalha com um espaço ligeiramente menor para os cortes em 2023, com a mediana avançando a 11,25%, de 11,00%.