O cartão de crédito é um meio de pagamento muito utilizado no Brasil. Segundo o órgão, em 2021, cerca de 65 milhões de pessoas (quase 40% da população adulta) realizaram mais de 200 milhões de operações mensalmente. Em média, as famílias têm cerca de 30% de suas dívidas com o Sistema Financeiro Nacional (SFN) relacionadas ao cartão de crédito, considerando as modalidades à vista, parcelada e de rotativo.
O BC destaca que a utilização “desatenta” do cartão pode “custar caro” ao consumidor, uma vez que, quando não se paga a fatura inteira, a dívida derivada do crédito rotativo ou da opção de parcelamento terá as taxas de juros mais caras do País, que ultrapassam 300% ao ano. Essas modalidades mais caras, ressalta a autarquia, são mais utilizadas por pessoas com renda inferior a dois salários mínimos.
“Além da desatenção, a complexidade do produto, o baixo nível de letramento financeiro dos usuários e as faturas confusas são alguns dos fatores que podem resultar na utilização indesejada do crédito rotativo ou parcelamento.”
Nesse sentido, o BC avalia que a simplificação das faturas de cartão de crédito é vislumbrada como possível facilitador para melhorar o perfil de uso desse instrumento.
As conclusões do experimento, afirma a autarquia, sugerem que a mudança de layout facilita o entendimento do produto, aumenta o pagamento da fatura e diminui o endividamento. Esses efeitos, segundo o BC, são mais fortes entre pessoas de menor escolaridade.
“Os resultados sugerem que leiautes de fatura de cartão de crédito que aprimoram a clareza e a organização das informações oferecidas ao consumidor têm o potencial de melhorar o entendimento sobre o produto financeiro, incentivar melhores decisões financeiras e reduzir o endividamento”, disse o BC, no boxe.
O órgão também observou que o grupo do experimento que foi exposto à nova organização de informações da fatura respondeu mais rapidamente e de forma mais acertada as perguntas sobre o produto. Além disso, o BC também testou como seriam as decisões se a tela de pagamento mostrasse um valor pré-preenchido de quitação da fatura e chegou à conclusão que tem forte influência sobre a escolha do consumidor.
O experimento, feito dentro do escopo de promoção da Cidadania Financeira, foi conduzido em plataforma online pelo BC, em parceria com a empresa de consultoria e pesquisa Plano CDE e com apoio financeiro da Fletcher School of Law and Diplomacy, escola da universidade norte-americana Tufts University. Para avaliar as hipóteses, os participantes, selecionados de forma a ter uma amostra balanceada em termos de idade, sexo e status socioeconômico, foram alocados aleatoriamente em um grupo de controle e dois grupos de tratamento.
O grupo de controle recebeu uma fatura semelhante às atualmente disponíveis no Brasil. O primeiro grupo de tratamento recebeu uma conta parcialmente alterada, com uma organização e redação escolhida para transmitir melhor informações como custos e taxas do cartão. Já a fatura do segundo grupo de tratamento tinha destaque para as opções de pagamento com juros mais baixos, além das mudanças já observadas pelo primeiro grupo de tratamento. Em ambos os casos, as faturas incluíam o mesmo conjunto de informações das faturas usuais e apresentavam taxas de juros e outros encargos semelhantes aos normalmente cobrados pelas instituições financeiras.
Além disso, também foi testado qual seria o efeito de um pré-preenchimento do valor a ser quitado na tela de pagamento da fatura. O experimento também avaliou o comportamento dos consumidores em um cenário em há dinheiro para quitar toda a fatura e quando não há recursos suficientes. Depois de avaliarem a conta do cartão, os participantes, responderam 14 perguntas sobre as informações básicas, de endividamento e os custos do cartão.
“O experimento demonstrou que os participantes que receberam as faturas com os novos leiautes compreenderam melhor os dados apresentados e estavam mais bem informados para identificar as consequências de aceitar o crédito rotativo ou pagamento da fatura em parcelas”, afirmou o BC, no boxe.