“Em nossa opinião, o Assaí é a fonte de financiamento mais fácil e rápida para o Casino entre as três subsidiárias que cobrimos”, afirmam os analistas Joseph Giordano, Nicolas Larrain, Guilherme Adami Vilela, do JPMorgan, em relatório.
O Casino deve vender outros ativos, entre eles, o Grupo Éxito, na Colômbia. No entanto, seu valor é bem inferior do que o do Assaí, que poderia ser mais rapidamente vendido. Nesta quinta, 20, o atacarejo divulgou lucro de R$ 281 milhões no terceiro trimestre, queda de 47% em relação ao mesmo período do ano passado. Já o Ebitda (que mede a geração de caixa) foi de R$ 994 milhões, com alta de 2% em relação ao mesmo período do ano passado.
O JPMorgan cita uma deterioração na margem de lucro que o grupo francês precisa demonstrar para cumprir acordos feitos (chamados de covenants pelo mercado) com credores para o terceiro trimestre de 2022. Para o analista de crédito do banco Neill Keaney, isso pode significar a aceleração do processo de venda de subsidiárias na América Latina.
Essa pressão ocorre apesar de o Casino ter obtido um adiantamento de metade dos recursos vindos da venda da Green Yellow, uma subsidiária de energia, num total de 350 milhões em dinheiro novo. O negócio como um todo vai render 600 milhões ao grupo.
Para a área de crédito do JP, o alívio vai ser temporário, com as dificuldades continuando para os próximos trimestres. “Portanto, o gap (distância) para o cumprimento do covenant provavelmente ficará sob pressão novamente no primeiro trimestre de 2023. Para aliviar isso, a dívida garantida precisará ser paga e/ou o Ebitda (geração de caixa) do perímetro francês do grupo terá de ser aumentado.”
Executivos de mercado ouvidos pelo Estadão/Broadcast dizem que o Casino poderia ter de vender ativos dos quais não quer se desfazer para resolver a questão de seu endividamento.
Como uma oferta total ou parcial da fatia do Assaí que pertence ao grupo francês levaria a uma quantidade elevada de ações disponíveis no mercado, o preço do papel ficaria prejudicado – o que justifica a queda de mais de 9% que o papel sofreu na terça-feira.
O JP Morgan, no entanto, aponta para uma oportunidade caso esse cenário se concretize. “Se for esse o caso, seríamos compradores do Assaí, apesar da pressão de curto prazo, pois a empresa tem um dos perfis de crescimento mais fortes em nossa cobertura e deve imprimir uma taxa de crescimento anual composta de 18% no lucro da companhia por ação ordinária em cinco anos”, escrevem os analistas.
Para eles, a redução de participação do Casino na companhia, ou mesmo sua saída, “suavizaria as preocupações de governança” em relação ao Assai.
Outro lado
Em razão de questionamentos da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o Assaí informou que “não tem conhecimento de nenhum fato específico ou ato relevante que justifique as últimas oscilações registradas com as ações de emissão da companhia, o número de negócios e quantidade negociada”. E disse ter questionado o Casino, que também afirmou desconhecer as razões para a oscilação nos papéis do atacarejo.
Procurado pela reportagem, o Casino não se pronunciou.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.