Baseado em machine learning(aprendizado de máquina), o equipamento GroundEye S já era usado para detectar defeitos em grãos como soja, arroz, feijão e milho. Após adaptações no CIC em parceria com a empresa de tecnologia para o agronegócio TBIT, foi possível desenvolver um software para o cacau.
A ferramenta identifica características das amêndoas relacionadas a forma, cor, textura, densidade e anomalias como mofo e insetos. Para ser considerado de alta qualidade, o produto deve ter coloração marrom escuro e interior compartimentado, por exemplo.
No quesito agilidade, a máquina trouxe grande vantagem. No modelo tradicional, um lote com 300 amêndoas, que devem ser cortadas ao meio e analisadas uma a uma, leva cerca de 1 hora e 20 minutos para ser classificado. O CIC recebe 160 amostras diariamente e tem prazo de até dez dias para entregar o resultado.
Com o equipamento, o processo é feito em menos de 20 minutos, já considerando o corte que segue manual. Além disso, o classificador automático oferece precisão, pois elimina o viés humano, e agiliza as negociações para pequenos produtores, que terão o resultado das análises em menos tempo.
Cristiano Villela Dias, diretor científico do CIC, conta que foram dois anos de conversas, entendimento da máquina e desenvolvimento até chegar ao software, que já está validado e será usado na safra.
Ele explica que o software precisou ser “treinado” para identificar as qualidades das amêndoas e classificá-las. Foram usadas cerca de 5 mil fotografias de cada classe de amêndoa (marrom, violeta, branca) de cacau de diferentes regiões, como Bahia, Rondônia, Espírito Santo e até de Gana, na África.
“São fotografias de duas safras para pegar as possibilidades de formas e cores dentro da fermentação de cacau”, diz ele. “Depois, treinamos a máquina para identificar imagens de forma automática.”
A máquina consegue avaliar nuances que são difíceis de identificar a olho nu, como padrões de cores. O recurso mensura a área total da amêndoa e indica a porcentagem de cores presentes nela, se mais marrom ou violeta.
Nem tudo fica a cargo da inteligência artificial. Algumas análises ainda são visuais, como a taxa de germinação, que é quando o embrião do grão germina e perfura a película que envolve a amêndoa. “Mas essa é rápida porque é muito visual e feita antes de cortar a amêndoa”, comenta Dias.
Por enquanto, o software está disponível apenas no CIC, que pode ser acessado por qualquer produtor ou empresa que deseje fazer a análise. “Nosso foco é o ganho de escala nas empresas, nas cooperativas e na indústria de processamento de cacau, porque o investimento é alto, mais de R$ 95 mil, e tem licença de uso”, afirma o diretor científico.
Ele espera que o equipamento seja usado para entender o perfil do cacau brasileiro, em um estudo de categorização nacional. A proposta está sendo discutida com a Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.