Durante a apresentação, Campos Neto disse que o mundo agora enfrenta um cenário pior do ponto de vista demográfico e geopolítico, com prejuízo à oferta. Ele acrescentou entre os vetores de piora a mudança no mercado de trabalho e os custos da transição energética.
“A gente tem demografia pior, uma mudança na parte estrutural de mão de obra, a gente tem um problema geopolítico, a gente tem uma cooperação tecnológica que está caindo”, disse Campos Neto. “A gente tem a parte da transição climática, que gera um custo adicional, a gente tem um problema de baixo investimento em energia.”
O presidente do BC acrescentou que a baixa adaptabilidade da oferta explica em parte o movimento da inflação durante a pandemia de covid-19, quando o mundo deu estímulos monetários e fiscais à economia. Segundo Campos Neto, esse fenômeno está relacionado ao fato de que a recuperação dos serviços foi mais rápida do que a queda dos preços de bens.
“A gente vê muito debate em relação à natureza da inflação, mas uma coisa é clara: a gente precisa fazer reformas que atuem do lado da oferta”, afirmou Campos Neto, citando a necessidade de aumento da cooperação internacional e de reformas estruturais nas economias.
Volatilidade nos mercados e liquidez menor em curva de juros
O presidente do Banco Central disse ainda que o fenômeno global de volatilidade maior nos mercados e liquidez menor na parte longa das curvas de juros é explicado por uma “aflição” do mercado com o tema da dívida pública. Mais cedo, ele notou que o mundo passou por um período de aumento das dívidas nos últimos anos.
“Os mercados estão muito sensíveis a esse tema fiscal, a gente viu o que aconteceu com a Inglaterra algumas semanas atrás”, disse Campos Neto. “Hoje, o que os mercados estão tentando entender não é como a gente vai fazer mais fiscal, e sim como vai pagar a dívida que tem.”
‘Pagar a conta da pandemia’
O presidente do BC afirmou que há um problema social resultante da covid-19, mas que os mercados agora estão mais preocupados em como “pagar a conta da pandemia”, em referência aos estímulos fiscais dados no período. Segundo Campos Neto, esse é um cenário que tem implicação para o Brasil.
Ele defendeu que as soluções adotadas pelos países para “pagar a conta da pandemia” têm sido na linha de aumentar impostos sobre capital, com impactos negativos para a produtividade.
Mais cedo, Campos Neto já alertara para um movimento de redução da produtividade global, que não foi acompanhado por reformas estruturais na época dos juros baixos e inflação baixa.