Nas contas do economista, a inflação em 12 meses atingiu o pico em setembro, com alta de 10,25%, mas deve desacelerar e fechar o ano em 8,7%, que é um nível extremamente alto e deve trazer uma inércia inflacionária importante para 2022. Para o ano que vem, Romão espera uma inflação de 4,5%.
A seguir, os principais trechos da entrevista.
A alta de 1,16% da inflação em setembro surpreendeu?
O resultado veio abaixo do que projetamos e da mediana do mercado, mas é preocupante. Esse resultado não muda minha estimativa para este ano de uma inflação 8,7%, que vai gerar uma inércia importante para 2022. Por isso, projeto 4,5% para 2022.
Por que o resultado preocupa?
Se pegarmos a mediana dos meses de setembro da década passada, ela foi de 0,5% e hoje temos 1,16%. Temos problemas concomitantes que geram pressões de preços. Um deles é a alta dos bens industriais, que fecharam o ano passado em 3,2%, e, em 12 meses até setembro, estão em 10,5%. Projeto que encerrem o ano em 9,5%, o segundo maior aumento da série. A alimentação no domicílio está em 14,7% em 12 meses e deve fechar em 8,7%. E a vacina no braço significa maior circulação de pessoas, o que chancela o reajuste dos serviços, que subiram 1,6% em 2020 e devem fechar 2021 com alta de 4,5%.
A inflação hoje atingiu o pico?
Para outubro, espero um aumento de 0,70% do IPCA. Não é pouco, mas vai representar uma desaceleração em 12 meses – sai de 10,25%, em setembro, para 10,07%, em outubro, indo para 9,56% em novembro. O ano fecha em 8,7%. É um resultado alto, mas é difícil imaginar que a inflação permaneça em dois dígitos, por causa da forte base de comparação que foi o final do ano passado. A alimentação está perdendo ritmo de alta, o que é parcialmente uma boa notícia.
Quais os riscos que há pela frente?
Com a piora do cenário global energético em razão da diminuição da oferta de gás natural, o consumo global de óleo e gasolina pode crescer e pressionar os preços dos combustíveis. Outro risco é a crise hídrica. A bandeira de escassez deve continuar até abril, mas existe o risco de se ter um sobrepreço ainda maior até lá. Outro ponto são os bens industriais, que tiveram uma avalanche de custos – parte disso foi repassado e parte, não. Os serviços também preocupam. Com o isolamento social, as famílias fizeram uma poupança forçada, deixaram de viajar, por exemplo, e podem voltar agora. Existe uma predisposição de gastar com serviços e a estrutura de oferta é menor, o que pode aumentar os preços.
A meta de 2022 virou miragem?
O Banco Central não admite, mas está cada vez mais difícil cumprir a meta. O BC vai focar com muito mais clareza sobre a inflação de 2023 quando começar 2022, e vai deixar evidente que a grande preocupação será o centro da meta de 2023.
Com o resultado de hoje, o seu cenário para a taxa básica de juros, a Selic, muda?
Não. A Selic hoje está em 6,25%. Neste mês, deve ir para 7,25% e, em dezembro, sobe para 8,25%. Espero uma alta de meio ponto para fevereiro de 2022, quando deve atingir 8,75% ao ano.
Quando o brasileiro vai sentir algum alívio na inflação?
Mesmo com a inflação esperada para outubro menor do que a de setembro, o IPCA está em 10,25% em 12 meses e deve fechar o ano em 8,7%. Só vamos perceber um alívio na inflação no primeiro semestre de 2022.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.