Participaram do evento, além de Giannetti, o ex-presidente do Banco Central e sócio fundador da AC Pastore & Associados, Affonso Celso Pastore, o superintendente a Abrapp, Devanir Silva, e a economista e presidente do Centro de Debates de Políticas Públicas, Carla Furtado.
“Nós precisamos entender a importância de começar a poupar cedo no ciclo de vida, a colocar o poder do crescimento exponencial trabalhando silenciosamente a nosso favor”, disse Giannetti.
A questão, de acordo com o economista, é que existe um fator biológico que incentiva o jovem a viver intensamente a vida sem se preocupar em fazer uma poupança para o último ciclo de sua vida. Além dessa condicionante, antigamente se vivia muito pouco, se morria muito cedo e, por isso, havia um incentivo muito grande para que as pessoas fizessem o que elas precisavam fazer na vida mais cedo e o mais rápido possível.
“Havia um incentivo à impulsividade, especialmente na reprodução, de fazer cedo enquanto é tempo porque mais tarde seria impossível. A incerteza do mundo era tão forte, a expectativa de vida era tão baixa que era muito arriscado, muito improvável que você pudesse fazer coisas no presente tendo em vista o longo prazo. Há uma base hormonal para isso, para que o jovem seja impulsivo”, explicou Giannetti, ponderando que esse é um ambiente arcaico.
Pastore, por sua vez, afirmando não transitar muito bem pelo campo filosófico da economia, preferiu trazer para o debate a questão demográfica, cujo bônus acabou. Ou seja, acabou o crescimento da população economicamente ativa, que permitia o PIB crescer ainda que não aumentasse o PIB per capita.
“Hoje em dia esse bônus demográfico desapareceu e a única forma que o País tem de crescer é aumentando a produtividade da mão de obra. E há duas formas de aumentar a produtividade: uma é aumentar o capital físico e a outra é aumentar o capital humano”, disse Pastore.
Há, ainda, segundo o ex-BC, uma terceira forma, que é a qualidade das instituições.
“Vocês citam economistas, filósofos, etc, que me é uma literatura desconhecida; eu prefiro, como um bom sapateiro que cuida de seus sapatos, me aplicar ao meu campo, que é o da teoria econômica”, disse o economista ao citar um livro que se baseia nas teorias do economista austríaco Joseph Schumpeter, que tratam de inovações que permitem criar novas formas de produção e que geram mais desenvolvimento econômico.
A opinião de Pastore é a de que o Brasil precisa de instituições que permitam a “criação destrutiva” ou “destruição criativa” – teoria de Schumpeter – que produza crescimento de produtividade e permita no fundo o que só se faz com capital físico e capital humano.
Carla Furtado, a presidente do Centro de Debates de Políticas Públicas, ao responder a questão sobre como conciliar o aumento da produtividade exigido para atingir o nível dos alemães com o tecer da vida plena significante, perguntou até que ponto isso é do brasileiro e até que ponto é uma mera narrativa.
Ela citou o livro “Sociedade do Cansaço”, do filósofo sul-coreano Byund-Chul Han, “que mostra que estamos mergulhados em uma narrativa de alta performance e que não é, necessariamente, uma demanda nossa”.
“Quando se fala em produtividade é importante que a gente se olhe ao longo do tempo porque ser altamente produtivo imediatamente é uma coisa, mas manter um nível de alta produtividade ao longo do tempo é outra completamente diferente. O que a OMS aponta pra gente é que precisamos estabelecer esse olhar de longo prazo inclusive para a produtividade”, disse Carla, acrescentando que, segundo a OMS, em 2030 o maior causador de depressão será o trabalho.
Neste contexto, segundo Carla Furtado, é preciso que se olhe para a produtividade de uma maneira sustentável porque a produtividade é coletiva também do ponto de vista sustentável. “Então não é fazer uma entrega incrível agora”, disse.
No final, todos concordaram que na questão da previdência, com aumento ou não de produtividade, de se começar ou não a poupar mais cedo, que é preciso separar bem o que é previdência e o que é seguridade social.
De acordo com Giannetti, é preciso haver algum tipo de proteção para aquela pessoa, que por algum tipo de contingência ficou sem renda, por exemplo, ao envelhecer. “Isso é seguridade social, não é previdência”, disse Giannetti.
“Esse é um ponto que concordo com você”, disse Pastore a Giannetti, acrescentando que num regime capitalista como o Brasil, de mercado e de governo “supostamente é democrático”, o Estado tem de ser segurador também.
“Ele é um segurador contra crises, ele é um segurador em pandemias, contra recessões e depressões econômicas e ele é um segurador de indivíduos que são afetados negativamente pelo azar como o velho, o doente, o indivíduo que perdeu o emprego. Essa é uma obrigação do Estado”, disse.
O superintendente-geral da Abrapp, Denir Silva, também concordou com os dois economistas e disse, inclusive, que se há uma crítica que ele faz ao modelo de previdência do Chile é que ele substituiu o papel de segurador do Estado.
“Eu concordo integralmente com as avaliações do professor Pastore e do professor Gianetti. Aqui, roubando um pouco do conceito do saudoso Professor Celso Barroso Leite… ele dizia que seguridade social talvez seja a coisa mais engenhosa que a humanidade descobriu. O bem-estar social é um dever do Estado mesmo. Por isso sou crítico a alguns modelos aqui na América Latina, especialmente o Chile, que substituiu o dever do Estado”, disse.