Na terça, o Ibovespa sofreu tombo de 3,28%, fechando aos 110.672,76 pontos, com o agravamento dos temores com a dinâmica das contas públicas.
De acordo com Mauro Orefice, diretor de investimentos da BS2 Asset, a sinalização do governo em relação à forma que fará para estender o auxílio emergencial é péssima. “Como já se fala há tempos, a maior preocupação do mercado é ver que o teto pode estoura. Quer ver como o governo acomodará o benefício, e ainda tem o impasse da PEC dos Precatórios votação foi transferida de ontem para hoje para ajuste no texto”, afirma.
Ainda que o índice Bovespa busque alguma recuperação, o investidor segue com dúvidas quanto ao comprometimento do governo com o fiscal. Isso porque é crescente a possibilidade de que metade dos R$ 400 previstos pelo governo para o auxílio emergencial fique fora do teto de gastos, elevando mais as preocupações com a dinâmica das contas públicas do País.
“Infelizmente as nossas projeções de dólar e inflação mais altos estão se confirmando com este quadro de preocupações. Com a proximidade das eleições se aproximando, fica mais fica mais difícil uma aprovação política de não furar o teto que não tenha impacto negativo no mercado no curto prazo”, avalia Eduardo Cubas, sócio da Manchester Investimentos, completando que a postura do governo indica que está disposto a sacrificar o longo prazo.
A solenidade para anunciar na terça o Auxílio Brasil, que detalharia o benefício que tende a ser estendido até dezembro de 2022, foi cancelada exatamente por divergências entre a equipe econômica e a alta política. Enquanto o segundo grupo defende que R$ 200 não entrem no cumprimento de limites nas contas públicas, a primeira corrente insiste em fixar em R$ 30 bilhões o gasto extrateto, para financiar R$ 100 dos R$ 400 previstos para o programa social.
“O cenário fiscal é muito importante e está muito complicado. Isso afeta a credibilidade do País. A reforma do IR Imposto de Renda não deve acontecer e isso dificulta para o governo, que não deve ter contraparte para o benefício”, avalia o estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus, em análise matinal a clientes e à imprensa.
Como ressalta Laatus, tampouco o exterior indica que terá condições de influenciar o Ibovespa positivamente, se nem mesmo ontem o fez, quando lá fora as bolsas subiram e aqui caiu. “Está calmo, sem nenhuma motivação”, diz.
Como observa a Necton Investimentos, as bolsas externas operam de lado nesta quarta-feira, com investidores pesando balanços de empresas e risco de pressões inflacionárias. Lá fora, os mercados aguardam o Livro Bege do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), sobre as condições da economia do país, às 15 horas, além de discursos de dirigentes do BC norte-americano e balanços.
Tampouco, as commodities têm condições de ajudar o Ibovespa hoje. O petróleo cai na faixa de 0,80% no exterior. Ainda assim, as ações da Petrobrás sobem, tentando recuperação, com alta de 1,07% (PN) e de 0,87% (ON) às 10h45. Já as da Vale ON cediam 2,77%, após a divulgação de dados trimestrais da empresa. Além disso, o preço do minério de ferro negociado em Qingdao, na China, fechou praticamente estável (alta de 0,02%), a US$ 124,07 a tonelada. No exterior, as ações de mineração caem com metais básicos, após a China lançar medidas para enfrentar a crise energética, cita a Necton em nota.
O movimento do minério ocorre após a Vale ter sinalizado ontem que pode cortar produção diante de um cenário de preços mais baixos e fretes mais altos. A mineradora informou que sua produção da commodity atingiu 89,421 milhões de toneladas no terceiro trimestre de 2021, alta de 0,8% em relação a igual período do ano passado e de 18,1% ante o trimestre imediatamente anterior.
Atenção também para a Petrobras, em meio ao temor de desabastecimento de combustível no mercado interno. Ontem, a estatal informou novamente que não está descumprindo contratos, conforme afirma um grupo de distribuidoras, segundo as quais a empresa estaria impondo cotas de fornecimento de gasolina e óleo diesel para o mês que vem.
Apesar da alta das ações da Petrobras, o investidor segue atento ao noticiário envolvendo a companhia. Preocupações sobre uma possível falta de abastecimento de combustíveis devem elevar ainda mais temores inflacionários e consequentemente de aumento da Selic de 1,25 ponto porcentual no Comitê de Política Monetária (Copom). “Com este quadro e de possibilidade de rompimento do teto de gastos, a tendência é juro, dólar e inflação para cima”, afirma Cubas.
Às 10h47, o Ibovespa subia 0,07%, aos 110.752,70 pontos, variando entre a mínima aos 110.488,93 e máxima diária aos 111.757,82 pontos.