O IPCA-15 coloca ainda mais pressão sobre o Comitê de Política Monetária (Copom), que define amanhã a taxa Selic, atualmente em 6,25% ao ano. Depois uma rodada nas revisões ontem para juro, inflação e crescimento, algumas instituições já informam mudanças em seus cenários. A ASA Investments, por exemplo, já vê a Selic subindo 2 pontos porcentuais, amanhã, após esperar aumento de 1,5 ponto. Com isso, o juro estimado pela instituição passou de 10,5% para 12% no fim do ciclo.
Hoje, o ambiente pesado na B3 reflete um cenário ainda mais elevado de inflação, como retratado no IPCA-15 de outubro, impedindo alta do Ibovespa, que ontem subiu 2,82%, fechando aos 108.714,55 pontos.
Apesar de o indicador não ser decisivo para o Copom, já influencia fortemente os juros futuros, devendo ainda ser bastante levado em consideração pelo Banco Central (BC), pelo menos no entendimento do mercado. Com juros mais altos, principalmente ações de empresas mais sensíveis ao consumo na Bolsa sentem o encarecimento dos preços na cesta do IPCA-15.
Na parte setorial da Bolsa, o índice de consumo cedia 1,53%, na mínima, às 10h42. Além disso, o que mede o segmento imobiliário caía 2,48%, enquanto o financeiro perdia 1,90%, já que são setores mais sensíveis aos juros.
O IPCA-15 subiu 1,20% em outubro, ante 1,14% em setembro, ficando perto do teto das estimativas na pesquisa Projeções Broadcast, que era de 1,25%. O piso estava em 0,83%, com mediana de 1,00%. Em 12 meses, a taxa acumulada é de 10,34%. “IPCA-15 acima das projeções reforça Selic mais alta”, diz em nota o economista-chefe da Necton, André Perfeito.
“Surpresa total o IPCA-15. O índice Bovespa futuro perdeu os 108.700 pontos, uma referência importante, e é daí pra baixo”, afirma estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus.
Na opinião de Laatus, o indicador reforça que a inflação brasileira encontra dificuldades de arrefecer, podendo dificultar o trabalho do Banco Central. “Temos uma inflação que não cede e isso deixa uma herança para o ano que vem, enquanto o governo não indica que fará algo para mudar este quadro”, diz.
Amanhã, o Copom define a taxa Selic, que atualmente está em 6,50% e para a qual muitos esperam aumento de 1,50 ponto porcentual, em meio ao quadro de incertezas inflacionárias, fiscais e de baixo crescimento.
A despeito da pressão de muitos no mercado para que o Copom eleve a Selic a 7,75% amanhã, Rodrigo Natali, diretor de estratégia da Inversa, pondera que seria um “grande erro” o BC elevar o juro acima de um ponto porcentual. “Seria grande besteira chancelar isso. Não tem motivo, apesar das preocupações fiscais. A inflação indica que ficará na meta no ano que vem”, afirma.
Além de uma inflação forte em outubro, a geração de empregos formais em setembro (313.902) no País ficou aquém da mediana de criação de 360 mil postos das expectativas do mercado financeiro. O resultado pode reforçar o temor em relação ao enfraquecimento econômico em meio a um quadro de pressão inflacionária, podendo corroborar a ideia de estagflação. Além disso, os dados tendem a elevar o temor de uma recessão econômica em 2022, como já apontado ontem pelo Itaú Unibanco.
Ficam ainda no radar as especulações sobre privatização da Petrobras. No exterior, o petróleo sobe, o que beneficia as ações da estatal, com alta em torno de 0,40%. Já a elevação do minério de ferro no porto chinês de Qingdao, a 2,70%, US$ 122,30 a tonelada, é insuficiente para impulsionar os papéis da Vale (-0,82%).
Às 10h46, o Ibovespa cedia 1,28%, aos 107.321,91 pontos, ante mínima diária aos 107.317,54 pontos e máxima a 108.713,31 pontos (abertura a 108.713,31 pontos).