Como foi 2021 para a área de E-Mobility da Enel X?
Foi impressionante. A transição energética e a mobilidade elétrica superaram as expectativas dos mais otimistas em termos de mercado, conhecimento, qualidade, avanço tecnológico, venda de veículos, carregadores e soluções. Esse avanço tem muito a ver com parcerias, como a que a Enel X fez com a rede de estacionamentos Estapar. Esse é um dos braços de um dos maiores grupos de energia do mundo, que é a Enel. Fazemos a ponte entre a oferta da energia necessária para mover a mobilidade elétrica e quem efetivamente fornece as soluções de mobilidade. Eu sempre brinco com os clientes e fornecedores que não sei vender carro nem patinete. Então, dependo de alguém que queira usar a energia elétrica para se movimentar. As montadoras, por exemplo, são grandes parceiras e a gente fica muito feliz por elas estarem olhando para mobilidade elétrica e fazendo essa transição de forma cada vez mais rápida. O Brasil é um grande mercado e as fabricantes vêm oferecendo cada vez mais veículos. Temos parcerias também com seguradoras, locadoras de veículos e concessionárias e importadoras. E também com postos de combustível, que estão passando a oferecer carregadores. É uma área muito integrada. Se você não vender carregador, não vende carro e vice-versa.
Como o sr. vê o futuro de fontes de energia como a fotovoltaica?
Eu trabalhei no setor de geração de energia da Enel e passei por hidrelétricas e termoelétricas. O Brasil tem uma capacidade de produção de dar inveja a muitos países. Acompanhei o nascimento do setor de energia eólica e depois, do de fotovoltaica. A evolução dessas soluções acelerou muito e, juntamente com mobilidade elétrica, evoluiu mais do que poderíamos esperar há alguns anos. Digo com certeza que a fotovoltaica é forma de geração de energia mais barata do Brasil. Se alguém dissesse isso há cinco anos, ninguém acreditaria. O Brasil tem terra e sol abundantes. Isso permite diversificar nossa matriz energética. Hoje, a produção de energia eólica e solar são os grandes xodós e têm grandes oportunidades de crescimento.
Haverá cobrança pela recarga em postos públicos?
A demanda por veículos elétricos ainda é pequena no País. Em 90% dos casos, a recarga é feita na casa ou trabalho do usuário. Então, ainda não há essa necessidade de recarregar o veículo na rua. Também temos a cultura de deixar o carro em garagens. Mesmo quando está fora de casa, é comum o brasileiro parar em estacionamentos. Isso facilita a expansão da oferta de recarga em locais privados. Há projetos pilotos criados para atender demandas institucionais, de marketing e de teste, por grandes montadoras e empresas de energia. A legislação permite a cobrança. Porém, é preciso saber se o consumidor está disposto a pagar. Diferentemente do veículo a combustão, que é reabastecido durante o processo de transporte, o elétrico é recarregado quando está fora de uso. Por exemplo, ao chegar em casa à noite, basta plugar na tomada e ele fica recarregando enquanto você dorme. No shopping, a recarga é feita durante o período usado para compras. Então, o processo de valor agregado é diferente. Algumas empresas começaram a cobrar a recarga, mas é difícil ter retorno financeiro se não houver o entendimento de que o modelo econômico é outro.
Quais são as metas para 2022 e como alcançá-las?
Logo no início do ano dobramos nossas metas. Fizemos parceria com a Zletric, startup da área de recarga. Ela traz muita tecnologia, visão e capacidade sobretudo no mercado ‘B2C’. A Enel X é uma das três empresas com melhor estratégia e execução de projetos de mobilidade elétrica do mundo. No Brasil, estamos criando e agregado soluções. A ecovaga (ponto de recarga em estacionamentos) é muito agregadora. Novas empresas, tecnologias e oportunidades estão surgindo. Na Europa, você pega um carro elétrico em Lisboa e vai para a Noruega usando o mesmo app de recarga. É como o celular, que muda automaticamente de operadora. Em 2022, a expectativa é de crescimento da frota de veículos de carga. Nosso maior desafio será oferecer soluções para vans, furgões e caminhões. Grandes empresas estão eletrificando suas frotas. A Enel X tem capacidade para entregar uma solução completa, inteligente, ativa do ponto de vista econômico e de longo prazo. O Brasil sempre surpreende e a perspectiva de crescimento é exponencial. Obviamente, temos uma visão de longo prazo, que aposta na sustentabilidade e no relacionamento com o fornecedor. A Enel X tem geração fotovoltaica, geração distribuída, eficiência energética e otimização. Há novos veículos chegando e até uma empresa (Great Wall Motors) que vai produzir apenas modelos eletrificados. E já começam a aparecer carros um pouco mais baratos. Creio que em dois anos esse mercado vai ser uma loucura.
Que dica o sr. daria ao Paulo de 20 anos atrás?
O engraçado é que a engenharia elétrica era um dos cursos mais conservadores. Os professores eram os mais velhos e os livros eram de 1950. No meu primeiro dia como estagiário, a Enel estava fazendo uma conversão de energia digital e eu não entendi nada. Perguntei a um engenheiro mais velho e ele também não sabia nada sobre aquilo. Ali eu aprendi que você vai aprender com o avanço da tecnologia. Então eu diria: ‘Abra a mente, porque novas oportunidades surgirão’.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.