O Nubank fez uma estreia na Bolsa de Nova York (Nyse) para alegrar seus investidores. Depois de alcançar o preço unitário de US$ 9 no lançamento de suas ações – o que já havia tornado a fintech a instituição financeira mais valiosa da América Latina -, os papéis do banco dispararam ontem quase 15% e encerraram o dia cotados a US$ 10,33. Com isso, a empresa passou a ter um valor de mercado de US$ 47 bilhões.
Com esse resultado já no primeiro dia de negociações, a companhia conseguiu recuperar US$ 6 bilhões de valor de mercado em relação ao preço almejado inicialmente pelo banco na abertura do seu capital – entre US$ 10 e US$ 11 por ação. Com a volatilidade do mercado acionário nos últimos meses e o receio de investidores, o Nubank acabou tendo de aceitar o preço de US$ 9.
Durante cerimônia na Nyse, a cofundadora do Nubank, Cristina Junqueira, afirmou que a estreia da fintech no mercado estrangeiro de ações marca uma nova fase para o banco digital. “Vamos continuar inconformados, sempre vai ter complexidade para a gente resolver, para melhorar a vida das pessoas”, disse.
Com a captação de US$ 2,6 bilhões (equivalentes a R$ 14,4 bilhões) em caixa, a fintech terá recursos para encorpar sua carteira de crédito, fazer novas aquisições e consolidar as operações internacionais. Em contrapartida, passará a ser cobrada por uma multidão de investidores.
Apenas no Brasil, onde negociará Brazilian Depositary Receipts (BDRs, que são certificados de uma ação listada fora do País), o Nubank terá mais de 8 milhões de investidores. Entre eles, estão clientes do próprio banco que aderiram a uma campanha interna (NuSócios) e ganharam um recibo cada. Eles só poderão negociar o papel a partir de dezembro do ano que vem. No primeiro dia de negociações, os BDRs da fintech subiram 20%.
O Nubank tratou o programa de sócios como peça central de seu IPO (operação de oferta de ações na Bolsa), algo que gerou elogios de analistas. “Pode ser uma grande jogada para fidelizar mais os seus clientes, pois eles podem começar a gostar da renda variável e perceber que podem ter altos retornos nesse mercado”, diz Rodrigo Lima, analista da corretora Stake, especializada em investimento no exterior.
Estreia
Após um longo leilão, para que acontecesse o ajuste entre a oferta e a demanda, as ações da empresa chegaram a ter um salto de quase 30% durante o pregão. O resultado foi considerado surpreendente por analistas e fontes do mercado.
Mesmo assim, o fundador e presidente do Nubank, David Vélez, sabe que, para manter os números, precisará buscar rentabilidade e enfrentar uma competição mais acirrada com os grandes bancos, que estão ficando mais digitais. “Apesar de tudo, sinto como se estivéssemos no primeiro segundo da primeira metade desse jogo”, disse.
Incerteza
Diversas ações de fintechs estão sofrendo na Bolsa americana. A empresa de maquininhas Stone, por exemplo, está com uma queda de quase 80% no ano, enquanto a sua rival PagSeguro registra uma redução de cerca de 50%. Até mesmo o gigante PayPal vale 40% a menos do que no pico deste ano.
“O receio com as empresas financeiras tem várias causas, uma delas é a consistência do crescimento e o aumento das taxas de juros no mundo”, afirma William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue Securities.
Por isso, o dia eufórico de estreia do Nubank pode não ser uma regra no futuro. A deterioração das perspectivas para a economia brasileira, com a inflação ainda alta, a elevação da taxa Selic e a desaceleração da atividade podem afetar os planos de crescimento da companhia.
Além disso, o mercado tende a sentir nos próximos meses os solavancos das eleições presidenciais de 2022.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.