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Alta do PIB é incapaz de impedir queda do Ibovespa por aversão a risco externa

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Estadão Conteúdos

Após subir mais cedo, o Ibovespa aprofunda o ritmo de queda, renovando mínimas na casa dos 108 mil pontos. O recuo das commodities influencia negativamente o indicador, bem como as bolsas externas, pesando principalmente nos papéis das petroleiras e daqueles ligados ao setor metálico. A retração reflete temores de recessão mundial, com efeitos na demanda.

“Perspectiva de alta fortes dos juros pelos bancos centrais principalmente nos EUA e minério caindo pesam, o que coloca a China como o principal driver de preços. Novos anúncios de lockdowns para conter covid em cidades chinesas importantes levaram a commodity a cair 4% na madrugada. Isso pesa aqui apesar do mercado de trabalho melhor e do crescimento do PIB mais alto que o esperado, ajuda o setor de varejo”, avalia Dennis Esteves, Dennis Esteves, especialista em renda variável da Blue3.

Por aqui, há números favoráveis de inflação e do Produto Interno Bruto (PIB), com alta de 1,2% no segundo trimestre. Já o IPC-S caiu 0,57% em agosto, após deflação de 0,95% na terceira quadrissemana e contração de 1,19% em julho. A queda mensal foi menor do que a prevista pela mediana da pesquisa Projeções Broadcast, que estimava recuo de 0,69% no mês. Ontem, o indicador da B3 fechou em baixa de 0,82%, aos 109.522,88 pontos (mínima), mas subiu 6,16% em agosto.

Conforme avalia em nota o economista-chefe da Necton, André Perfeito, o resultado “é bom” e deve elevar as projeções para 2022. Isso porque, explica, muito dos incentivos dados pelo governo se concentra no terceiro trimestre como o Auxílio Brasil e a queda da gasolina.

Entretanto, Perfeito adianta que a Necton não revisará ainda a estimativa do PIB deste ano, que é de expansão de 2%, “uma vez que vamos olhar em detalhe outros componentes como o setor externo que recuou com a alta expressiva de importações e queda nas exportações.”

De todo modo, acrescenta Esteves, da Blue3, o exterior imprime cautela, em meio a indicadores fracos de atividade na Ásia e na Europa, que elevam temores de recessão, principalmente no bloco europeu, tema já debatido em relação aos Estados Unidos. Por lá, os índices de gerentes de compras do setor industrial (PMI) se mantiveram estáveis. Tudo isso somado a preocupações de juros mais altos por mais tempo principalmente nos EUA, reforçando especialmente por dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central do país).

“Persiste a reprecificação dos ativos nos mercados internacionais nesta manhã, com os investidores se ajustando à perspectiva de que os principais bancos centrais terão que subir as taxas de juros além do estimado até recentemente”, avalia em relatório matinal o economista Silvio Campos Neto, sócio da Tendências Consultoria.

As bolsas asiáticas fecharam em baixa, após Nova York acumular perdas pelo quarto pregão consecutivo, em meio a preocupações sobre novos aumentos de juros nos EUA, e também na esteira de dados fracos de atividade manufatureira da China.

O setor manufatureiro chinês segue preocupando. O PMI industrial chinês medido pela S&P Global e Caixin Media caiu de 50,4 em julho para 49,5 em agosto, com a leitura abaixo de 50 indicando contração da atividade. Além de novos surtos de covid-19, a China vem enfrentando sua pior onda de calor em seis décadas, que levou a racionamentos de energia e prejudicou a manufatura.

“O mau humor global é reforçado com a notícia de mais uma grande cidade chinesa entrando em lockdown, no caso a metrópole Chengdu com seus 21 milhões de habitantes e que responde por 1,7% do PIB do país. Neste ambiente, as bolsas europeias e os futuros em Wall Street estendem a correção baixista, assim como as principais commodities”, acrescenta Campos Neto, da Tendências.

Para José Simão, sócio da Legend, é difícil imaginar um quadro totalmente favorável para o Ibovespa, ainda que se tenha espaço para altas. “É preciso que o cenário fique mais claro, que destrave, principalmente no exterior”, afirma.

Às 11h19, o Ibovespa cedia 0,90%, aos 118.498,76 pontos, após recuar 1,07%, na mínima aos 108.350 pontos, e máxima aos 110.063,39 pontos (alta de 0,49%). Petrobrás caía 0,39% (PN) e 0,54% (ON), enquanto Vale ON cedia 3,07%.

Hoje, a estatal reduziu em 7% o preço do litro da gasolina em suas refinarias. A partir de amanhã, o preço médio de venda de gasolina A da Petrobras para as distribuidoras passará de R$ 3,53 para R$ 3,28 por litro, redução de R$ 0,25 por litro.

“Acredito que a queda do petróleo lá fora está impactando mais papéis. Com as quedas dos últimos dias, a Petrobras estava com preços acima do mercado internacional. Mesmo com recuo anunciado hoje, o preço deve estar um pouco acima”, avalia Bruno Takeo, analista da Ouro Preto Investimentos.