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Bassar Pet Food tem desafio à frente após mortes de animais

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Estadão Conteúdos

Da noite para o dia, a Bassar Pet Food se tornou uma das empresas mais conhecidas no segmento de alimentação animal. Mas não por um bom motivo. A marca entrou no centro de um escândalo: seus produtos teriam causado a intoxicação e a morte de cerca de 30 cachorros. Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), houve contaminação em petiscos caninos da empresa pela substância monoetilenoglicol (usada para resfriamento de produtos), caso similar ao que aconteceu com as cervejas da Backer, que causaram dez mortes de consumidores.

Os relatos começaram aos poucos e logo se multiplicaram, levando à investigação do caso pelas autoridades. A substância causou problemas sérios de saúde nos animais de estimação, como danos ao fígado e ao rim. Enquanto o monoetilenoglicol é tóxico, o propilenoglicol é atóxico para humanos e cães. Porém, a primeira substância é mais barato do que a segunda. De acordo com a Bassar Pet Food, a matéria-prima utilizada foi fornecida pela empresa Tecno Clean Industrial, de Contagem (MG).

Baseada em Guarulhos (SP), a companhia anunciou o recall de todos os produtos fabricados a partir de fevereiro de 2022, com numeração acima do lote 3.329. Os consumidores devem entregar os produtos de volta às lojas onde foram comprados. A empresa diz investigar o caso com as autoridades e teve sua fábrica interditada. A Bassar Pet Food também contratou uma auditoria independente para avaliar o maquinário e as matérias-primas dos produtos fabricados e reforçou que o etilenoglicol não é utilizado na cadeia de produção.

Para Luciano Deos, presidente da consultoria de marketing Gad, a empresa teve sua reputação abalada por não ter desenvolvido uma relação de confiança com os consumidores antes do caso da intoxicação dos pets. “As marcas grandes já têm créditos de confiança acumulados ao longo do tempo. Essa marca não tinha recursos para usar nesse momento, e esse é o desafio que ela tem que enfrentar”, diz.

Na visão do consultor, o caso prejudica todo o segmento, inclusive outras empresas. Para se recuperar disso, a Bassar Pet Food precisaria adotar uma postura transparente. “As companhias aéreas têm quedas de aviões que matam centenas de pessoas e não mudam suas marcas da noite para o dia. As pessoas não deixaram de viajar com elas. Mas as empresas precisaram tomar medidas proativas e fazer esforços que vão além da operação em si”, afirma Deos.

Motivos

Os motivos que levaram à contaminação de alguns lotes de petiscos da Bassar ainda estão sob análise. Jaime Troiano, presidente da Troiano Branding, afirma que problemas desse tipo não são intencionais, mas podem acontecer devido a fatores como a busca por produtividade e competitividade, bem como pelo uso de insumos de qualidade discutível. “Apesar da dramaticidade da situação, o consumidor será mais cuidadoso na escolha e as empresas aumentaram a qualificação dos produtos. Isso aconteceu com o automóvel, depois dos acidentes. É o preço caro que a sociedade paga para melhorar a qualidade do que tem à sua disposição”, afirma Troiano.

Marcelo Tripoli, fundador e presidente da agência de marketing digital Zmes, diz que o caso afeta a reputação da marca e prejudica os negócios a curto e médio prazo. Porém, pode ser um ponto de virada que levará a empresa a um novo patamar, desde que ela consiga resistir ao período de dificuldades sem fechar.

Petz

Maior empresa do setor e com capital aberto na Bolsa, a Petz era uma das principais revendedoras dos produtos da Bassar Pet Food. Com a divulgação dos laudos sobre mortes de cães, a Petz recolheu todos os produtos da marca de suas lojas na mesma semana. A empresa diz que o laudo pericial não apontou a presença de substância tóxica no petisco Every Day, mas sim no Dental Care.

Para Murilo Breder, analista de ações do Nubank, a contaminação dos biscoitos caninos da marca não chegou a ter um reflexo negativo para a Petz, mas a empresa lida com outras questões que colocaram os papéis em tendência de baixa.

“Tendemos a achar que o impacto na ação teve a ver com o caso. Mas ela já estava em baixa desde o começo do ano, em parte, por ser uma small cap (de valor relativamente pequeno). Se houvesse algum impacto, seria algo nos últimos dez dias. O resultado trimestral veio misto. A empresa segue crescendo, mas ela comprou a Zee.Dog e até hoje não conseguiu fazer uma virada para o positivo nesse acordo”, diz Breder.

No caso específico dos petiscos, o analista resume que a Petz “parar de vender o produto ajudou a acalmar o mercado”.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.