“Acreditamos que o pico da inflação no Brasil ocorrerá em abril. Vamos alcançar 11% (em 12 meses). Começamos a subir os juros já há muito tempo e devemos ir (com a Selic) mais provavelmente até 12,75%, que coloca os juros no campo restritivo. Obviamente, precisamos entender se vai haver mais choques vindos dessa crise, e estamos preparados para agir. Mas já fizemos a maior parte do serviço e precisamos esperar e ver os efeitos do que foi feito”, afirmou Campos Neto, em palestra organizada pelo Banco Central de Reserva do Peru com o Banco de Compensações Internacionais (BIS).
Ele repetiu que o deslocamento da demanda se serviços por bens tem sido a maior causa da alta da inflação global. Mais uma vez, ele apontou que a demanda maior por energia já era notada antes mesmo do conflito no Leste Europeu. “Tivemos tempos difíceis tentando identificar os efeitos da combinação de medidas tomadas por bancos centrais e governos em geral. Tivemos enormes pacotes fiscais e estímulos monetários combinados. Estávamos preparados para uma depressão, mas graças a Deus enfrentamos uma recessão. Mas os efeitos estão conosco até hoje”, completou.
Questionado sobre o que levaria o Banco Central a fazer uma nova elevação da Selic na reunião de junho, o presidente do Banco Central respondeu que a autoridade monetária deixou a porta aberta para um novo aumento de juros daqui a duas reuniões, apesar de dar mais probabilidade para o encerramento do ciclo de alta na reunião de maio, aos 12,75% ao ano. “Deixamos a porta aberta para a reunião de junho exatamente porque sabemos que há uma grande incerteza sobre a extensão da crise. Ainda acredito que os mercados ainda estão confortavelmente entorpecidos, mas não sabemos se isso vai durar muito tempo”, afirmou.
Campos Neto destacou que a reação dos players de mercado é diferente do que aconteceu em 2008. “Existe muita diferença de comportamento e aprendizados do que aconteceu em 2008 influenciando o mercado hoje. Se o conflito (no Leste Europeu) se intensificar muito, ou se houver uma disrupção no mercado – que não podemos prever – teríamos que repensar (a estratégia do BC). Mas no momento, não acreditamos que esse será o cenário mais provável”, completou.
Ele mais uma vez citou a dificuldade de se fazer política monetária em tempos de incerteza, mas disse já estar se acostumando com isso. “Terei que me acostumar a fazer política monetária com incertezas, porque já estou aqui há três anos tudo que vi até agora foram incertezas”, brincou.
Reservas
O presidente do Banco Central disse que administrar as reservas internacionais brasileiras é “sempre problemático” dado que há um montante enorme de recursos. “Reservas são ativos do País administrado por um BC independente, temos que ter o máximo de transparência”, acrescentou.
Campos Neto destacou ainda a dificuldade de regular inovações que mudam “tão rapidamente”, como criptomoedas.