Campos Neto considerou que 2021 foi um “ano foi difícil”, mas com muitas conquistas: agenda de covid, tecnologia e sustentabilidade.
Ele ainda confirmou que a reunião de dezembro foi a última do Comitê de Política Monetária (Copom) com o diretor de Política Econômica do Banco Central, Fabio Kanczuk.
A indicação de um sucessor para ele, no entanto, ainda não foi aprovada pelo Senado. A próxima reunião do Copom ocorrerá nos dias 1º e 2 e fevereiro.
“Agradeço ao diretor Fabio Kanczuk, é o último Copom dele, fez um grande trabalho”, agradeceu Campos Neto.
Ancoragem
Questionado sobre a possibilidade de um cenário de estagflação para 2022, o presidente do Banco Central respondeu que a ancoragem das expectativas inflação é o elemento mais importante para estabilizar crescimento de longo prazo e a parte fiscal. O BC reduziu sua estimativa para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2022, de 2,1% para 1,00%.
“Entendemos que vamos passar por um processo com elevação de juros e crescimento da atividade na margem que não é muito elevado. Mas se processo for feito com credibilidade e transparência, é melhor remédio para maximizar possibilidades de crescimento futuro”, afirmou Campos Neto, em coletiva sobre o RTI.
Na mesma coletiva, Fabio Kanczuk, avaliou que a projeção do BC para o PIB de 2022 não é otimista, mas “adequada”. “Nosso cenário não é de recessão, é de crescimento baixo, mas positivo.”
Transparência
Campos Neto argumentou que o Copom foi “bastante transparente” ao comunicar que passou a considerar o atingimento da meta ao longo do horizonte relevante – que inclui 2022 e 2023 – e não mais já em 2022. “Leia-se que a gente segue o padrão normal, em que a essa altura daríamos um peso mais ou menos igual a 2022 e 2023”, afirmou.
Para ele, qualquer banqueiro central em processo de enfrentamento à inflação pode cometer dois erros. “Ou subir demais os juros ou subir de menos e aí enfrentar uma desancoragem muito mais persistente e definitiva. Nesse caso, os exemplos brasileiros mostram que é preciso colocar o País em recessão para recuperar a credibilidade”, avaliou.
Mais uma vez, Campos Neto enfatizou que o BC vai seguir com a estratégia até atingir a meta e as expectativas estejam ancoradas. “Entendemos que é muito importante avançar nesse processo de normalização”, completou.
Ciclo e taxa terminal
O presidente do Banco Central destacou que o Copom debateu aumentos maiores na taxa Selic, o quão longo poderia ser o ciclo de aperto e qual poderia ser taxa terminal dos juros. “Não sabemos qual é a taxa terminal, mas entendemos que há movimento mais persistente de inflação que poderia levar um ciclo mais longo”, afirmou.
Juro neutro
Campos Neto disse também que a alteração no juro neutro de 3,0% para 3,5% não foi “discreta”. Lembrou que o BC também leva em consideração “um leque grande” de cenários alternativos para a taxa neutra. “Essa atualização não é feita em tempo real. Esperamos, acumulamos informações e atualizamos de tempos em tempos. Mas isso não muda de forma relevante o nosso trabalho no curto prazo”, afirmou.
Fabio Kanczuk, por sua vez, acrescentou que, se o hiato do produto não está abrindo de forma mais rápido, isso significa que o juro neutro estaria um pouco mais alto. “No balanço de riscos do Copom, temos um cenário com mais risco fiscal, que tem juro neutro maior. Conforme Copom muda a probabilidade de cenários alternativos, ele implicitamente muda o juro neutro, porque o que vale no fim para as projeções do Copom é uma mistura de cenários”, completou o diretor.