“O BC não tem compromisso com qualquer ritmo de alta de juros, nem menor nem maior. Embora as projeções do mercado sejam uma informação relevante, o BC tem seus próprios modelos e a política monetária segue suas próprias projeções”, afirmou Serra, em videoconferência organizada pela Upon Global.
Ele reconheceu que o mercado acredita não ser possível trazer a inflação para a meta em 2022 no atual ritmo de alta da Selic, mas repetiu que o Copom entendeu na última reunião que não era necessário acelerar o ciclo para entregar o centro da meta no próximo ano. “Nesse ritmo, vemos um cenário no qual entregamos a inflação na meta”, reforçou.
Para o diretor, a decisão do BC em manter o ritmo de alta da Selic não está entre os fatores que levaram ao aumento da volatilidade do câmbio. “Minha percepção é de que a dinâmica do câmbio e outros ativos não sugere uma percepção negativa, de acomodação. Meu entendimento é de que o câmbio performou mal recentemente por outras razões. Espero que tenhamos um cenário mais líquido de câmbio do que nos últimos 18 meses”, completou.
Postura natural
Bruno Serra avaliou também que é natural que BC tenha de ser mais duro para lidar com um choque de inflação com um Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de dois dígitos em 12 meses. “Estamos desancorados para 2022, como outros países. É natural que país que vive há décadas com inflação baixa e estável e modelo de metas maduro vai ter como olhar através desse choque com a convicção de que ele é temporário, com mais cautela na hora de reagir. Mas é natural que o BC tenha que reagir a esse choque de forma mais aguda que outros países”, afirmou.
Para Serra, diversos bancos centrais estão caminhando para diagnóstico similar ao do BC brasileiro, de choque de demanda de duração mais persistente.
“Alta de juros recente no Chile de 125 pontos base foi rara para o padrão daquele país, que tem um regime bem estável. Esse é o tipo de exemplo que sugere que o resto do mundo caminha para diagnóstico semelhante ao nosso”, completou o diretor.