Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foram mensalizados e dessazonalizados por pesquisadores do Ipea. Os resultados mostram que a população ocupada passou de 100,439 milhões em junho para 99,982 milhões em julho, descendo a 99,947 milhões em agosto. Em dois meses, a queda no número de vagas foi de 0,5%, 492 mil postos de trabalho a menos.
A população desocupada também caiu, passando de 9,903 milhões em junho para 9,690 milhões em julho, descendo novamente a 9,251 milhões em agosto. O total de pessoas em busca de emprego diminuiu 6,6% em dois meses, 652 mil desempregados a menos.
O que cresceu foi a inatividade, um aumento de 2% em agosto em relação a junho, 1,289 milhão de pessoas a mais nessa situação. A população inativa aumentou de 63,063 milhões em junho para 63,681 milhões em julho, alcançando 64,352 milhões em agosto.
Na série livre de influências sazonais, a taxa de desemprego recuou pela 15ª vez consecutiva, saindo de 9,0% em junho para 8,8% em julho, caindo a 8,5% em agosto de 2022, o menor patamar desde julho de 2015.
“A queda da desocupação foi explicada, nos últimos dois meses, por uma retração da taxa de participação na margem, pois a população ocupada e o nível da ocupação não apresentaram crescimento nesse período”, observaram os pesquisadores do Ipea Maria Andreia Parente Lameiras e Marcos Hecksher, na Carta de Conjuntura publicada pelo instituto neste mês.
A taxa de participação, que mostra a proporção de pessoas em idade de trabalhar que efetivamente participam do mercado de trabalho, diminuiu de 63,7% em junho para 63,4% em julho e 62,9% em agosto.
O nível da ocupação, que mostra a fatia de pessoas ocupadas entre a população com idade para trabalhar, caiu de 58% em junho para 57,7% em julho e 57,6% em agosto, na série mensalizada com ajuste sazonal.
A perda de fôlego no mercado de trabalho coincide com o enfraquecimento da atividade econômica registrado em agosto tanto pelo Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) quanto pelo Monitor do PIB da Fundação Getulio Vargas (FGV). Ambos os indicadores antecipam os rumos do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, apurado pelo IBGE.
O IBC-Br caiu 1,13% em agosto ante julho. Já o Monitor do PIB da FGV apontou uma retração de 0,8% em agosto ante julho.
“É um padrão que já era esperado”, lembrou Rodolpho Tobler, responsável pelo Indicador Antecedente de Emprego (IAEmp) do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). “Pode ser o início dessa desaceleração do mercado de trabalho.”
Segundo ele, a previsão era que a geração de vagas no mercado de trabalho arrefecesse acompanhando a desaceleração da atividade econômica projetada para o segundo semestre, mas, principalmente para o ano que vem, em meio a um cenário de impacto defasado da política monetária, de juros elevados para conter a inflação.
“É esperado que agora comece a ficar um pouco mais estável, com estabilização da taxa de desemprego até o ano que vem. Mas, na virada para 2023, pode ter até um aumento na taxa de desemprego. Claro que nada perto do que teve durante a pandemia”, ponderou Tobler.
Tobler lembra que tanto o varejo quanto a indústria dão sinais de desaquecimento, o que contribui para o mercado de trabalho “ficar um pouco de lado”.
A Tendências Consultoria Integrada corrobora a expectativa de um mercado de trabalho mais estável no médio prazo: a projeção para a taxa de desemprego média de 2022 é de 9,4%, sucedida em 2023 por uma taxa média praticamente no mesmo patamar, aos 9,3%.
“De modo geral, agora, com esse arrefecimento da atividade econômica no segundo semestre de 2022 e ao longo de 2023, a gente deve ver uma forte desaceleração no crescimento da população ocupada pela Pnad na margem e a geração de vagas formais pelo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados)”, previu o economista Lucas Assis, analista da Tendências Consultoria Integrada. “Então esse cenário de impactos cumulativos da política monetária doméstica e esse esgotamento do impulso gerado pela normalização do consumo de serviços presenciais, e também pela redução significativa de parte dos estímulos fiscais, deve limitar o mercado de trabalho”, acrescentou.
O levantamento do Ipea desconta influências sazonais depois que as séries trimestrais da Pnad Contínua sobre contingente de ocupados, desempregados e inativos são mensalizadas, portanto, não há uma relação contábil exata entre elas.