De acordo com o fato relevante divulgado pela companhia, a aquisição representará a entrada da Cencosud no mercado de São Paulo, o maior do País, e em um segmento que tem se destacado frente aos outros do varejo, como supermercados e hipermercados.
O negócio, no entanto, ainda precisará do aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Nos últimos anos, o modelo atacarejo passou a ser a queridinha dos olhos de todo o setor. Com o Cencosud não foi diferente: houve a migração de 27 lojas no ano passado para o modelo, que já vinha ganhando espaço nos últimos anos por praticar preços menores – algo fundamental para boa parte da população em momento de inflação alta.
Por isso, na visão de Alberto Serrentino, fundador da consultoria Varese Retail, o negócio feito pelo Cencosud com o Giga cria uma nova realidade para a varejista no mercado brasileiro. Afinal, a companhia estreia no mercado paulista em um segmento que tem garantido resultados de boa parte das varejistas do País – segundo dados da consultoria McKinsey, o atacarejo já domina 40% das vendas de alimentos no Brasil e fatura R$ 230 bilhões ao ano.
“O Giga é um negócio bom e em poucos anos conquistou uma posição bem robusta no mercado de São Paulo, que é o principal do Brasil, e dá uma posição boa para o Cencosud brigar com a concorrência”, afirma Serrentino.
Mas para o especialista o grupo tem que mostrar o poder de integração dos negócios para conseguir concorrer com companhias como o Atacadão e o Assai.
A companhia, que chegou ao País em 2007, fez uma série de aquisições desde então, mas analistas apontam que, assim como o antigo Walmart (que foi vendido para a Advent em 2018, se tornou Big e depois foi negociado com o Carrefour no ano passado), as operações das redes distintas não foram integradas de maneira tão acelerada como deveria. Isso fez com que o Cencosud perdesse espaço para concorrentes.
Apesar de estar no Brasil há 15 anos, a história do Cencosud começou no Chile em 1976, com a abertura do primeiro supermercado Jumbo. No início dos anos 2000, partiu para a consolidação local e logo depois acelerou a sua expansão internacional pelos países da América Latina. Agora, além de Brasil e Chile, a varejista também tem lojas na Aregntina, Peru e Colômbia e um universo de 140 mil colaboradores.
Vendas no Brasil
O ano de 2021 também não foi dos mais fáceis para o Cencosud. Ao contrário. No ano passado, a operação brasileira do Cencosud no Brasil sofreu com a queda nas vendas e redução em seus principais indicadores financeiros. No acumulado de 2021, a companhia registrou uma receita bruta de R$ 9,1 bilhões, 2,8% menor do que a vista um ano antes. Quando analisada apenas as vendas em mesmas lojas, a queda foi ainda maior: 4,1%.
Um dos motivos para a queda nas vendas, segundo a própria empresa, foi o desempenho no segmento de não alimentos – uma queda de 21% no quatro trimestre do ano passado. Ao mesmo tempo, a companhia já havia apontado que iria voltar para a expansão: pela primeira vez em sete anos, abriu 10 novas unidades.
Atualmente, o grupo Cencosud tem uma operação em mais de 70 municípios do País e com 346 lojas. Entre as marcas do grupo estão o GBarbosa, com mais força no Nordeste, o Bretas, que tem atuação nos estados de Goiás e Minas Gerais, além do Prezunic, com lojas restritas no Rio de Janeiro.
No ano passado, a empresa chegou a publicar a intenção de realizar um IPO na B3 para captar dinheiro a fim de acelerar a expansão das suas operações por meio de crescimento orgânico e aquisições. Mas com o mercado pouco aberto para novas ofertas, a empresa decidiu cancelar os planos por ora.
Concorrência
As concorrentes do Cencosud também estão acelerando a sua expansão nos últimos anos. O Assaí, por exemplo, fez a sua cisão do Pão de Açúcar em 2020 e de lá para cá fez uma aquisição de pelo menos 70 hipermercados Extra do próprio Pão de Açúcar, que vão ser remodelados para atuarem como unidades de atacarejo.
Esse movimento fez com que o Grupo Pão de Açúcar acabasse com a sua bandeira de hipermercados, que vinha tendo resultados abaixo do Assaí, que se tornou a grande estrela da companhia. Não por acaso, antes da separação, a varejista já vinha atuando na conversão de boa parte dos hipermercados.
O Atacadão, que é controlado pelo Carrefour, também vinha fazendo compras em série. A maior delas foi a do Grupo Big, por R$ 7,5 bilhões, no começo do ano passado. Em 2020, a empresa já tinha pagado quase R$ 2 bilhões por 30 lojas da concorrente Makro e a conversão das lojas foi finalizada no ano passado.