A oferta de ações da Eletrobras, que vai resultar na saída do governo do controle da gigante de energia, tem potencial de movimentar R$ 30 bilhões na Bolsa no mês que vem. A operação – do tipo subsequente, ou seja, de empresa já listada na Bolsa brasileira, a B3 – vai reanimar o combalido mercado de renda variável brasileiro, que está praticamente parado neste ano.
Fontes afirmam que existem dez grandes investidores já comprometidos e outros três em negociação, incluindo cinco estrangeiros. Não há conversas com investidores estratégicos – ou seja, empresas do setor. Segundo fontes, já haveria demanda para cobrir a oferta.
O tamanho da operação é equivalente a mais de dez vezes a média de ofertas semelhantes no ano passado: em 2021, foram 24 lançamentos, com valor médio de R$ 2,4 bilhões cada um. A movimentação da Eletrobras pode uma das maiores operações na Bolsa brasileira desde a megacapitalização de R$ 120 bilhões da Petrobras, realizada em 2020.
A oferta de ações vai definir o valor que o governo deverá receber diretamente pela Eletrobras – montante que deve variar de R$ 23 bilhões a R$ 26 bilhões, segundo fontes. O governo calcula seu ganho com a operação em R$ 67 bilhões. Para chegar a esse valor estão sendo considerados mais de R$ 40 bilhões referentes a investimentos futuros e à Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), criada para compensar políticas públicas para amenizar reajustes de energia.
Os agentes do mercado financeiro esperam também adesão do investidor de varejo em níveis não vistos há cerca de 20 anos. Estão protocolados na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) 14 fundos para investidores que queiram usar recursos do FGTS ou migrar posições que compraram em ações da Petrobras e da Vale, com recursos do Fundo, em 2000 e em 2002.
No ano passado, a Eletrobras anunciou a pré-seleção de instituições financeiras para formar o sindicato de bancos que estruturariam a oferta. Os coordenadores líderes da oferta são BTG Pactual, Itaú BBA, Bank of America, Goldman Sachs e XP Investimentos. Participam ainda do grupo Bradesco BBI, Caixa, Citi, Credit Suisse, JP Morgan, Morgan Stanley e Safra.
MERCADO LENTO
Desde o fim de 2021, os bancos têm visto suas receitas nos segmentos de investimento penalizadas especialmente pela ausência de novas ofertas (IPOs, na sigla em inglês) e queda nos volumes de operações subsequente. Com a Selic em dois dígitos e os investidores arredios diante das incertezas com a inflação, o mercado tem poucas operações no horizonte.
Esse momento difícil, que a oferta da Eletrobras poderá amenizar, já afetou diretamente as receitas dos bancos de investimento. Conforme mostrou a Coluna da Broad, com a compilação dos dados do primeiro trimestre. A receita do Itaú BBA caiu 2,4% nesse período, na comparação com o ano passado, enquanto no Bradesco BBI o recuo foi de 7,5%. Já no BTG Pactual, a linha de negócio de banco de investimento teve queda de 27%, na mesma comparação.
ÚLTIMOS PASSOS
O governo corre contra o tempo para garantir a operação. A Eletrobras precisa concluir o preparo dos documentos finais que terá de apresentar aos reguladores de mercado no Brasil e nos EUA.
Esse trabalho inclui a atualização do balanço do primeiro trimestre, divulgado na última segunda-feira, e com base no acordão do Tribunal de Contas da União (TCU), que deu aval para a oferta na quarta-feira – a autorização veio após forte ofensiva do ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, junto a ministros do TCU nos dias anteriores.
A oferta deve ser protocolada na semana que vem na CVM e na Securities and Exchange Commission (SEC, órgão de mercado de capitais nos EUA), para poder ir ao mercado em meados de junho.
A privatização da Eletrobras acontecerá por meio da oferta primária, envolvendo entre R$ 23 bilhões e R$ 26 bilhões (dinheiro que ficará com o governo), e secundária, para redução da fatia da União de 72% do capital votante do negócio para cerca de 45%.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.