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Com Ômicron lá fora e ameaça interna ao fiscal, dólar sobe 0,95% ante real

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Estadão Conteúdos

Após andar de lado ontem, o dólar escalou nesta quarta-feira, 29, o patamar dos R$ 5,69 e terminou o dia em alta de 0,95% (R$ 5,6934). Com as informações sobre o aumento de casos de covid-19 no mundo, o mercado opera cauteloso, ora preocupado com a alta nas infecções e o avanço da Ômicron, ora ponderando a falta de casos mais graves. A situação acaba gerando alguma busca por segurança, afastando o investidor da maior parte dos países emergentes. Aqui, desfavorece o real um cenário pouco animador para o ano que vem, que vê incertezas sobre o fiscal, sobre o crescimento e muita instabilidade com as eleições. Isso, num cenário de baixa liquidez e com pressão usual dessa época por moeda para remessas ao exterior, elevam a cotação.

“As informações sobre pandemia estão cada vez mais difusas. Muito investidor está em espera. O mercado está meio confuso querendo saber para que lado vai essa onda. Essa explosão de casos na pandemia, ninguém sabe se vai ter fechamento, se vai influenciar no crescimento mundial”, aponta Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora. Lá fora, a moeda operava em alta frente à maior parte dos emergentes, com exceção de peso chileno e mexicano.

Mais cedo, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, afirmou que estar preocupado com o fato de a variante Ômicron, circulando ao mesmo tempo em que a Delta, gerar um “tsunami” de casos de covid-19 e hospitalizações. Além disso, a Casa Branca informou que o número de casos de covid-19 subiu 60% na comparação semanal. E Reino Unido, Itália e Austrália bateram recorde de infecções diagnosticadas nesta quarta-feira.

Nesse cenário, nem mesmo o petróleo em alta conseguiu ajudar o real, com o barril do WTI para fevereiro em avanço de 0,76% e o Brent, 0,69%.

Aqui dentro, os investidores já começam a pintar o cenário para o próximo ano. Já pela manhã, o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) acima do esperado (em 0,87% em dezembro, ante expectativa de 0,74% e após 0,02% de alta em novembro) começou a inserir cautela no mercado. Os investidores também monitoram se a pressão dos servidores federais vai ganhar corpo, após reunião de hoje ter marcado para fevereiro uma discussão sobre possível mobilização.

Com as incertezas internas e um cenário de eleição à frente, com mais e mais pressões por gasto, o Brasil perde a atratividade, destaca Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo Investimentos. Sobretudo em um contexto de sinais de recuperação da economia americana e com um tapering à vista.

“Você fala de um cenário mais estressado de Brasil, com eleições, escassez de dólar (pelo tapering, que enxuga liquidez global) e vai ter demanda por dólar, por ser uma moeda que vai gerar ainda mais atratividade, sobretudo se vermos índices americanos mostrando mais força”, aponta, completando: “Com os juros altos aqui, pode até gerar atratividade de entrada de fluxo, mas ele não é permanente. Com os critérios técnicos atuais, o dólar vai permanecer elevado (ante o real)”.

Dados do Banco Central divulgados hoje mostram que, neste ano até 24 de dezembro, o fluxo de entrada de dólares no país foi positivo em US$ 8,958 bilhões. No entanto, o desempenho positivo tem mais relação com o saldo do comércio exterior (+US$ 10,5 bilhões) do que com o canal financeiro, que teve saídas líquidas de US$ 1,596 bilhão no ano. O segmento financeiro reúne os investimentos estrangeiros diretos e em carteira, remessas de lucro e pagamento de juros, entre outras operações.

Com o resultado de hoje, o dólar acumula uma alta de 9,73% no ano, 1,03% no mês e 0,54% na semana.