O resultado de 2020 ainda é positivo, mas a redução de 46,82% na quantidade de novas vagas criadas no ano chama atenção. Revisões em dados do Caged são corriqueiras e podem ocorrer até 12 meses após novas demissões e admissões, mas a magnitude da discrepância revela que de fato um número maior de firmas atrasou o preenchimento das informações sobre demissões no ano passado.
Quando divulgado em janeiro, o Caged de 2020 acumulava 15,166 milhões de admissões e 15,023 milhões demissões. Agora, após dez meses de revisões mensais, o número de admissões subiu para 15,437 milhões, uma correção de 1,78%. Mas a quantidade de demissões aumentou para 15,361 milhões, um ajuste de 2,25%.
O primeiro impacto da pandemia de covid-19 sobre o Caged foi um “apagão” de dados do indicador no começo do ano passado. No fim de março de 2020, o Ministério da Economia decidiu suspender por tempo indeterminado a divulgação dos saldos do Caged de janeiro e fevereiro. Com o passar das semanas, os dados de março também caíram nesse limbo.
Em abril do ano passado, o então secretário de Trabalho do Ministério da Economia e atual secretário executivo do Ministério do Trabalho, Bruno Dalcolmo, reconheceu que Caged tinha dificuldades na coleta de informações em um momento em que muitas empresas e escritórios de contabilidade estavam fechados.
Nos meses seguintes, porém, a pasta alegou que o preenchimento das informações tinha voltado ao normal, negando o aumento de subnotificações de demissões. No entanto, a persistente elevação da taxa de desemprego medida pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua do IBGE contrastava com os resultados bastante positivos do Caged.
Em novembro de 2020, o Broadcast mostrou que diversos economistas seguiam suspeitando que empresas que faliram na crise simplesmente haviam deixado de comunicar um volume alto de demissões ao Caged. Existiam dúvidas se o ritmo da recuperação do emprego seria mesmo em forma de “V”, como sempre sendo propagado pela equipe econômica do governo.
O próprio Dalcolmo argumentou em mais de uma divulgação mensal do Caged que, se houvesse qualquer tipo de subnotificação de demissões, os próprios trabalhadores teriam denunciado as empresas, já que ficariam sem receber o seguro-desemprego.
As suspeitas de subnotificação de demissões no Caged incomodaram autoridades da pasta ao longo do ano passado. Em junho de 2020, o ex-secretário especial de Trabalho e Emprego do Ministério da Economia e atual advogado-geral da União, Bruno Bianco, atribuiu a uma discussão ideológica os questionamentos às estatísticas do mercado de trabalho. “Uma ou duas pessoas que não se contentam com dados positivos e criam histórias infundadas”, afirmou, na ocasião.