Diante do risco embutido, as instituições que estão anunciando o crédito – entre elas Agibank, Banco Pan e a varejista Pernambucanas, por meio de seu braço de serviços financeiros – estão se prevenindo por meio de taxas mais altas.
As taxas cobradas no consignado do Auxílio Brasil deixam bem claro que a linha é uma aposta de risco. O juro poderá superar os 60% ao ano, conforme cálculos de mercado. Esse número está muito acima da média do consignado pago pelos aposentados pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), de 26% ao ano.
Logo, o beneficiário do programa social pagará taxas mais próximas às do mercado de balcão das instituições financeiras, sem a “garantia” oferecida pelo modelo com desconto em folha.
DESVIO DE FUNÇÃO
O diretor de serviços financeiros da consultoria alemã Roland Berger, João Bragança, aponta que o consignado do Auxílio Brasil acaba desvirtuando essa linha com desconto na fonte. “Por se tratar de um benefício de subsistência, é preciso analisar se faz sentido antecipar valores (por meio do consignado)”, diz ele.
Outro problema é o nível de comprometimento, de 40%, pois o dinheiro certamente vai fazer falta ao beneficiário nas parcelas seguintes. De acordo com o especialista da Roland Berger, ao se negar a entrar na onda de conceder empréstimos para pessoas que dependem de benefícios sociais, os bancos estão até levando em conta o “S” do ESG, sigla em inglês para ações ambientais, sociais e de governança das empresas.
Isso porque, ao não fazer financiamentos desse tipo a esse público, segundo Bragança, as instituições financeiras não tiram dinheiro de quem precisa dele para necessidades do dia a dia, como alimentação.
Qualquer risco para o modelo de crédito consignado, de acordo com especialistas, pode se tornar um problema para o sistema financeiro como um todo. Isso porque, segundo dados do Banco Central (BC), a carteira de crédito pessoal hoje é de R$ 788 bilhões no Brasil – e o consignado responde por nada menos do que 70% desse total.
ANÚNCIO ELEITORAL
Desde o mês de agosto, já num contexto de campanha eleitoral, o governo federal passou a pagar os valores de R$ 600 para os beneficiários do Auxílio Brasil. Entre os grandes bancos, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal devem ofertar o consignado ligado ao benefício social, que tem sido utilizado como umas das bandeiras do presidente Jair Bolsonaro em sua campanha em busca da reeleição. E isso apesar de o valor de R$ 600 só estar garantido até dezembro deste ano.
A Caixa informou que está à espera da divulgação das normas complementares e que só depois divulgará as condições sobre a linha. “Sugerimos aos clientes que, antes de contratar, planejem a utilização do valor emprestado e busquem as melhores taxas. Clientes que possuem empréstimos com taxas de juros mais elevadas poderão contratar o consignado e utilizar o valor para liquidação dessas dívidas. Se o valor for utilizado para comprar algum bem, é importante que o cliente avalie a real necessidade do produto e o seu custo-benefício”, informou em nota ao Estadão.
Já o BB informou à reportagem que “avalia as condições técnicas e negociais com base na regulamentação definida pelo governo federal”.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.