Hoje, quem entra pelo edifício percebe uma loja bastante escondida. Ao seu lado, uma livraria concorrente está prestes a abrir as portas (a Drummond), exatamente em uma área que foi antes da própria da Cultura. Fora essa loja, que, apesar de menor, segue como um cartão de visita, estão operantes uma no shopping Market Place, também em São Paulo, e outra localizada em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.
Segundo o presidente da Cultura, Sergio Herz, a pandemia acelerou o fechamento de lojas, que eram 15 em 2020. “A falta de previsibilidade quanto ao cenário futuro, economia, juros, inflação e a própria eleição de 2022 nos levou para o lado mais conservador de encerrar as operações que não tivessem um retorno rápido e consistente no pós-abertura (da pandemia).” O executivo diz que o e-commerce será o principal canal de vendas. Ele acredita que, num futuro próximo, as lojas físicas responderão apenas por 30% do faturamento.
ESTRATÉGIA. Há quase quatro anos em recuperação judicial com uma dívida da ordem de R$ 285 milhões, a Cultura vem se desviando de uma série de pedidos de falência de seus credores. Ano passado, teve de reunir os credores para aprovar um novo plano de recuperação, por conta dos efeitos da pandemia.
Hoje, para buscar mais fluxo nas lojas remanescentes, a Cultura trouxe parceiros para vender em seu espaço, em uma espécie de vendas itinerantes, indo de artesanato, quebra-cabeças ou prateleiras dedicadas a uma única editora, como observou a reportagem do Estadão em visita à loja. Também reabriu, recentemente, seu teatro e está organizando eventos. Um deles, na semana passada, foi o lançamento da biografia da empresária Luiza Trajano, do Magazine Luiza, que reuniu centenas de pessoas. “Estamos implementando o Hub Cultura. Em julho, abriremos o Bistrô Casa de Antônia e já temos parcerias com algumas editoras participando do Hub. Teremos várias novidades para o segundo semestre “, diz Herz.
Mas, nos bastidores, o sinal é amarelo. O administrador da recuperação judicial, a consultoria Alvarez & Marsal, destaca, em documento enviado à Justiça, que a Cultura não vinha cumprindo com o plano – e nem pagando seus honorários. Questionada, a Cultura afirma que segue com o plano e reiterou a “plena viabilidade econômica da companhia”.
O consultor do mercado editorial Eduardo Vilella afirma que, na sua visão, a Cultura terá de apostar em lojas menores, voltar seu negócio a um determinado nicho e garantir bom atendimento ao público .”A Cultura também precisa resgatara confiança das editoras e distribuidoras de livros “, diz o especialista. “A Cultura precisa trabalhar muito bem essa integração do físico com o digital, e não deixar o cliente sair da loja sem efetuara compra “, afirma .