Começar a deixar o pior momento dos efeitos climáticos para trás significa algum alívio na pressão por reajustes nos preços dos alimentos. Isso pode moderar um pouco a difusão da inflação ao consumidor, mas nada capaz de mudar tendência de forma abrupta, segundo Braz. Ainda puxado pela “inflação de energéticos”, formada por combustíveis e conta de luz, o IPCA, indicador oficial de preços calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), poderá terminar o ano em 9,0%, estima o especialista.
Os sinais de que o pior da estiagem pode ter ficado para trás apareceram no IPA-DI, que mede os preços no atacado. O milho em grão recuou 5,10% (ante alta de 5,26% em agosto), os bovinos (os animais vivos, cujos preços influenciam, posteriormente, o preço final das carnes) ficaram, em média, 2,69% mais baratos (ante queda de 0,24% em agosto) e mesmo o café em grão, que avançou 7,83%, arrefeceu perante o salto de 15,10% em agosto.
A safra de milho e a pecuária estão entre as atividades mais atingidas pela estiagem, enquanto as lavouras de café foram prejudicadas pelas geadas do inverno. Segundo Braz, os efeitos nos preços no atacado começam a ficar para trás em setembro porque os prejuízos com as quebras de safra já foram realizados. “A seca quebrou as safras, o prejuízo já foi contabilizado, então, é bola para frente. O preço já subiu e não tem mais porque subir mais”, afirmou o pesquisador da FGV.
Isso não quer dizer que acabaram os efeitos secundários. A quebra na safra de cana, por causa da estiagem, ainda está acelerando a alta de preços do açúcar e do etanol, com impacto secundário sobre os combustíveis em geral. A alta dos preços do álcool, que é misturado na gasolina vendida ao consumidor, impulsionou a aceleração da gasolina no IPC-DI, que monitora os preços no varejo – mesmo sem reajustes nas refinarias da Petrobras, a gasolina ficou 3,38% mais cara em setembro, ante um avanço de 1,14% em agosto.
Em parte por isso, a “inflação dos energéticos” seguirá no radar até o fim do ano, segundo Braz. O pesquisador não descarta novos reajustes da gasolina vendidas nas refinarias, já que as cotações internacionais de petróleo e o dólar no mercado nacional vêm subindo recentemente. Semana passada, a Petrobras anunciou reajuste no diesel, que não foi captado pelo IPA-DI, mas exercerá pressão importante na leitura de outubro, disse Braz.
A outra componente da “inflação dos energéticos”, a conta de luz, ficou 8,52% mais cara no IPC-DI de setembro. Conforme Braz, novos saltos não deverão se repetir, já que o efeito da bandeira extraordinária, taxa adicional introduzida pelo governo nas contas de luz para compensar o acionamento das usinas termelétricas e estimular o consumo de eletricidade, mas os efeitos secundários ainda poderão ser sentidos. Isso porque a manutenção da alta em 12 meses em patamares elevados até o ano que vem – a bandeira extraordinária valerá até abril – pressiona negócios que usam muita eletricidade, em diversos setores, a reajustarem seus preços finais.
“Quando o governo mantém a bandeira mais cara por muitos meses, estimula repasses”, afirmou Braz.
Esse efeito secundário poderá impedir um alívio maior no espalhamento da inflação ao consumidor. Em setembro, o índice de difusão do IPC-DI, que mede a proporção de itens com taxa de variação positiva, ficou em 65,48%, 12,58 pontos porcentuais abaixo do registrado em agosto, quando o índice foi de 78,06%. A redução da pressão por mais reajustes nos alimentos ajuda na acomodação do índice de difusão, mas os energéticos impedem queda maior, o que deverá deixar o nível de espalhamento da inflação acima da média neste fim de ano, disse Braz.