Pela manhã, a divisa operou em queda firme, tendo descido até mínima de R$ 5,3535 (-0,95%). O real era beneficiado pela valorização das commodities, na esteira de anúncio do governo da China de estímulos ao setor imobiliário, e pela consolidação da aposta de que o Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) não vai acelerar o ritmo de alta de juros neste mês.
Segundo operadores, assim que o clima azedou em Nova York, sob novos temores de recessão diante de notícias de que a Apple está preocupada com desaceleração do crescimento nos EUA, teve início um movimento de realização de lucros intraday e de recomposição de posições defensivas no mercado local. Assim, o dólar não apenas trocou de sinal como correu até a máxima de R$ 5,4287 (+0,44%).
No fim do dia, a moeda era cotada a R$ 5,4257, em alta de 0,38% – o que leva a valorização acumulada em julho a 3,65%. Operadores ressaltam que a liquidez foi apertada, o que tornou a taxa de câmbio mais suscetível a operações pontuais. Principal referência do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para agosto girou menos de US$ 10 bilhões.
Lá fora, o dia foi de ajuste de baixa da moeda americana frente a divisas fortes, sobretudo o euro e a libra, muito castigados na semana passada. Em relação a divisas emergentes e de países exportadores de commodities, incluindo pares do real, o desempenho foi misto.
Segundo o analista de câmbio da corretora Ourominas, Elson Gusmão, houve uma retomada de posições defensivas no mercado local com a piora do humor em Nova York, uma vez que os mercados estão muito sensíveis a qualquer sinal que mostre perda de fôlego da economia global. “Os investidores querem ver como os BCs vão conseguir combater a inflação sem sufocar o crescimento econômico”, diz Gusmão.
O Banco Central Europeu (BCE) deve anunciar uma alta da taxa de juros (provavelmente em 25 pontos base) na quinta-feira (21). Amanhã, sai o índice de preços ao consumidor na zona do euro em junho.
Gusmão vê possibilidade de o dólar correr até R$ 5,50 nas próximas semanas, dependendo do grau de aversão ao risco no exterior e das decisões de política monetária do BCE e do Federal Reserve (no próximo dia 27). Com a perspectiva mais forte de recessão na Europa e o descompasso do ritmo de aperto monetário entre Fed e BCE, o euro se enfraqueceu bastante em relação ao dólar.
Após divulgação de redução das expectativas de inflação nos Estados Unidos, relevada na sexta-feira por leitura preliminar do sentimento do consumidor em julho feita pela Universidade de Michigan, o mercado voltou a apostar majoritariamente em uma alta de 75 pontos-base da taxa básica americana neste mês.
“Caiu significativamente a chance de elevação dos Fed Funds em 100 pontos-base. A deterioração do índice de mercado imobiliário reforma a percepção de que o Fed não será tão agressivo nos juros até o final do ciclo”, diz o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, ressaltando que, por aqui, o mercado parece “estar esperando uma redução da aversão ao risco”, já que o Boletim Focus trouxe mediana de R$ 5,13 para a taxa de câmbio no fim do ano.
A economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, observa que o real apresentou uma piora em seu desempenho relativo frente a pares nos últimos dias, dado o ambiente externo conturbado e o aumento do risco fiscal doméstico. “A tensão entre os poderes Executivo e Judiciário também acaba por elevar os prêmios de risco e investidores estrangeiros seguem retirando recursos da bolsa brasileira”, afirma Damico, em relatório. “O cenário para a taxa de câmbio segue de alta volatilidade no curto prazo, porém continuamos vislumbrando mais vetores de depreciação da moeda, com dólar forte e elevação do risco fiscal, principalmente.”
O presidente Jair Bolsonaro voltou a atacar o sistema eleitoral brasileiro e pôr em xeque a segurança das urnas eletrônicas em encontro hoje com embaixadores estrangeiros no Palácio da Alvorada. Segundo o presidente, hackers ficaram por oito meses dentro dos computadores do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e tiveram acesso a uma senha de um ministro da Corte.