Com mínima a R$ 5,1663, registrada ao longo da tarde, a moeda encerrou o pregão em baixa de 1,03%, cotada a R$ 5,1668. Assim, a divisa americana termina a primeira semana de agosto com leve queda (-0,14%), após ter recuado 5,90% na semana passada e fechado julho com perda de 1,16%. Termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para setembro, que vinha movimentando cerca de US$ 10 bilhões, apresentou nesta sexta volume superior a US$ 13 bilhões.
No exterior, o índice DXY – referência do comportamento do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes – disparou e chegou a tocar máxima aos 106,930, com ganhos expressivos da moeda americana frente ao iene e ao euro. As divisas emergentes e de países exportadores de commodities mais relevantes apanharam, com a exceção do real, do baht tailandês e do rublo russo, com alta de mais de 2% frente ao dólar.
O relatório de emprego (payroll) dos EUA em julho trouxe criação de 528 mil vagas, bem acima da mediana de Projeções Broadcast (250 mil). A taxa de desemprego caiu de 3,6% em junho para 3,5%, contra previsão de estabilidade. O salário médio por hora avançou em ritmo maior ao esperado tanto na comparação mensal quanto na interanual.
Com o mercado de trabalho forte, os riscos de recessão diminuem e cresce a possibilidade de que o aperto monetário nos EUA seja mais rápido e intenso. As taxas dos Treasuries subiram em bloco, com altas entre 5% e 6%. O retorno da T-note de 2 anos – mais ligada ao ritmo de alta do juro básico – superou a faixa 3,20%. Monitoramento do CME Group mostra que as apostas de alta de 75 pontos-base dos Fed Funds em setembro voltaram a ser majoritária.
“A taxa de desemprego nos EUA mostrou desaceleração para o nível pré-pandemia. O mercado entendeu que o Fed tem margem para continuar subindo os juros no ritmo de 75 pontos, o que fortaleceu o dólar no exterior”, afirma a economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest.
Por aqui, a moeda norte-americana até chegou a seguir a maré externa e ensaiou uma alta mais firme ante o real após a divulgação do payroll, correndo até a máxima de R$ 5,2767. Mas a febre compradora se desfez ainda pela manhã, em sintonia com os ganhos do Ibovespa. Analistas observam que parece estar em curso um movimento de rotação global de carteiras rumo a ativos muito depreciados – caso das ações brasileiras e do próprio real – similar ao observado no primeiro trimestre.
Entre os gatilhos para a volta do estrangeiro ao mercado local estaria o sinal do Copom de fim de ciclo de aperto monetário,o que deu vazão à tese de possível corte da taxa Selic em 2023. Há também a recuperação dos preços das commodities diante da saúde da economia americana EUA e do incentivo ao setor imobiliário na China. Os contratos futuros do cobre, termômetro das expectativas de crescimento econômico, subiram mais de 2%. Recuperando parte das perdas da semana, o minério de ferro avançou 2,63% em Qingdao, na China.
Pelo lado doméstico, a percepção é que os ativos de risco podem se valorizar na expectativa de queda dos juros até o final de 2023 e normalização da política atraindo fluxo de capitais”, afirma o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, em referência ao desenlace da corrida eleitoral.
A economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, observa que, mesmo quando o dólar perdia força globalmente nos últimos dias com a expectativa de uma postura mais amena do Fed, o real já apresentava uma boa performance em relação a seus pares.
Segundo Damico, o Brasil se diferencia do resto do mundo por estar já na fase final de aperto monetário, enquanto os Estados Unidos e os outros países emergentes ainda estão em meio ao processo de alta de juros.
“Conseguimos oferecer juros reais mais atrativos que os outros. E tem também um pouco de retorno de recursos para a Bolsa”, afirma a economista da Armor, ressaltando o fechamento recente da curva de juros doméstica sugere que pode ter fluxo para a renda fixa local.