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Dólar cai 1,11% com apetite externo ao risco e atuação do Banco Central

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Estadão Conteúdos

O ambiente externo de apetite ao risco, com alta das Bolsas em Nova York, e o efeito cumulativo das intervenções do Banco Central minaram o fôlego do dólar no mercado doméstico de câmbio nesta sexta-feira, 15. No fim da manhã, sob efeito de leilões de swaps (extra e de rolagem) e de declarações do diretor de Política Monetária do Banco Central, Bruno Serra, a moeda à vista chegou a ser negociada abaixo do patamar de R$ 5,44, ao registrar a mínima de 5,4346 (-1,48%). Com uma redução do ritmo de perdas ao longo da tarde, o dólar voltou a rodar na casa de R$ 5,45, mas ainda assim fechou em queda firme, de 1,11%, cotado a R$ 5,4547. Com o tombo hoje, a divisa americana fechou a semana em queda 0,77% e avança de apenas 0,16% em setembro.

Operadores destacam que o real voltou a andar em sintonia com seus principais pares entre as divisas emergentes, já que o rand sul-africano e o peso mexicano também apresentaram ganhos de cerca de 1% em relação à moeda americana hoje. O índice DXY – que mede a variação do dólar frente a seis divisas fortes – operava perto da estabilidade, abaixo da linha dos 94 pontos.

Em evento virtual pela manhã, o diretor de Política Monetária do BC admitiu que pode haver uma “dinâmica perversa” no câmbio, mas reforçou que a instituição tem uma “capacidade robusta” de intervenção no mercado – no que foi interpretado, nas mesas de operação, como um recado de que não vai deixar a taxa de câmbio à deriva. Serra disse também que o mercado teve “claramente dificuldade em digerir” parte do risco cambial desde fins de setembro, fruto da saída concentrada de recursos, o que acabou levando o BC a atuar para garantir a liquidez. “É sempre melhor quando o mercado funciona sozinho, mas os volumes vendidos pelo BC nos últimos dias mostram que estamos atentos”, afirmou Serra, acrescentando que “se a política econômica ficar de pé”, o dólar vai perder força, “voltando a responder ao diferencial de juros”.

“A postura do BC mudou claramente nesta semana com os leilões extras de swap, que já somaram US$ 3 bilhões. Isso revela que o BC está reticente em dar um aumento de juros ainda maior já que a inflação está vindo de choques de oferta”, afirma o economista-chefe da Integral Group, Daniel Miraglia, para quem o dólar, a despeito da presença mais forte do BC, ainda tende a seguir pressionado em razão de um cenário fiscal desafiador, inflação ainda elevada e deterioração das expectativas de crescimento. “Além disso, o Federal Reserve vai reduzir os estímulos no fim do ano, o que terá impacto nas moedas emergentes.”

Embora não se descarte a possibilidade de o dólar voltar a ser negociado acima de R$ 5,50 e busque até R$ 5,55 no curto prazo, operadores avaliam que a atuação do BC quebrou a espiral de desvalorização do real. Com a autoridade monetária na ponta vendedora, a montagem de posições compradas (que apostam na alta do dólar) se torna muito mais arriscada, o que inibe a especulação e evita que haja uma antecipação da busca por hedge.

O gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, afirma que a antecipação da oferta de swaps para overhedge dos bancos, cuja demanda será concentrada no fim do ano, acabou levando parte do mercado a acreditar que o BC estava tentando conter o dólar por causa da inflação.

“Começou um movimento de especulação para chamar o BC ao mercado. Esses leilões extras quebraram essa dinâmica. Agora ficou mais desconfortável ficar comprado, porque o BC pode intervir e dar liquidez para atender à demanda por dólares”, diz Galhardo, que vê a taxa de câmbio rodando, no curto prazo, em uma banda entre R$ 5,35 e R$ 5,55, acrescentando que o aumento das remessas típico de fim de ano, aliado ao ruído político e ao cenário externo ainda conturbado, impõem um piso à taxa de câmbio.

No início da tarde, em evento online organizado pelo banco Goldman Sachs, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, reafirmou que o câmbio é flutuante e que a instituição intervém “quando o mercado está disfuncional”. Além da demanda adicional de dólares por questões técnicas, como o overhedge dos bancos (US$ 17,4 bilhões), Campos Neto reconheceu que o mercado preficica incertezas no campo fiscal.

Hoje, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, voltou a dizer que a votação da PEC dos Precatórios será na próxima semana, com apreciação pela Comissão especial na terça-feira (19) e no plenário na quarta (20) ou quinta-feira (21). O relator da Medida Provisória do Auxílio Brasil, deputado Marcelo Aro (PP-MG), disse, com exclusividade ao Broadcast, que o programa terá orçamento de R$ 34,7 bilhões sem essa PEC. Caso a proposta seja aprovada, esse valor sobe para R$ 60 bilhões.