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Dólar cai 1,42% e fecha abaixo de R$ 5,00 pela primeira vez desde junho

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Estadão Conteúdos

O dólar à vista emendou o seu quarto pregão consecutivo de queda na sessão desta segunda-feira, 21, e fechou abaixo do piso psicológico de R$ 5 pela primeira vez em nove meses. Mais uma vez, operadores relataram entrada de fluxo estrangeiro para a bolsa doméstica, beneficiada pela valorização das commodities, e apetite por operações de carry trade. Nova piora das expectativas de inflação no boletim Focus do Banco Central e uma alta superior a 7% das cotações do petróleo, com o impasse nas negociações para um cessar-fogo na Ucrânia, sustentam apostas de que o Comitê de Política Monetária (Copom) possa ter que estender o ciclo de aperto monetário para além da reunião em maio, na qual já está contratado aumento da taxa Selic em 1 ponto porcentual, para 12,75%.

A pressão vendedora no mercado doméstico amainou um pouco no início da tarde, em razão de discurso duro do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, que não descartou a possibilidade de aumento da taxa de juros superior a 25 ponto-base e afirmou que “há uma clara necessidade” de a política monetária ter uma postura mais “neutra” ou até “restritiva”.

A reação dos ativos lá fora foi imediata. A moeda norte-americana acelerou os ganhos frente a outras divisas fortes, sobretudo o euro e o iene, e as taxas dos Treasuries dispararam, com o yield da T-note de 10 anos atingindo 2,31% na máxima.

Por aqui, o dólar voltou a ser negociado ao redor do patamar de R$ 4,95, mas ainda em queda superior a 1%. No fim da sessão, apresentava perda de 1,42%, a R$ 4,9445 – abaixo de R$ 5,00 pela primeira vez desde 30 de junho (R$ 4,9732) e no menor nível desde 29 de junho (R$ 4,9419). O real liderou os ganhos entre divisas de países emergentes e exportadores de commodities, seguido de perto pelo peso chileno. Outras divisas pares, como o rand sul-africano, também resistiram bem à perspectiva de mais juros nos EUA.

O head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, ressalta o fato de o impacto da alta das taxas dos Treasuries sobre as moedas emergentes ter sido bem modesto. “Alguns anos atrás, com uma alta desse tamanho das taxas lá fora, o dólar tinha subido mais de 2% aqui. O máximo que fez hoje foi tirar o dólar da mínima”, diz Weigt. “O real é muito beneficiado por esse quadro de valorização das commodities. A taxa real de juros muito elevada também ajuda. O dólar pode descer até R$ 4,90.”

Segundo dados mais recentes da B3, os investidores estrangeiros ingressaram com US$ 1,680 bilhão na bolsa doméstica na quinta-feira, 17. Isso levou o saldo acumulado em março a R$ 12,611 bilhões. Em 2022, as entradas de capital externo somam R$ 75,231 bilhões.

“Ainda que não implique necessariamente em fluxo cambial, os dados disponíveis do balanço de pagamentos de investimentos em ações no país reforçam que houve, sim, entrada de divisas. E este continua sendo um ‘driver’ importante da apreciação cambial”, afirma, em relatório, a economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, ressaltando que, com a Rússia tendo perdido atratividade em razão da guerra na Ucrânia, consolidou-se um novo equilíbrio de fluxo global favorável ao Brasil, que “tem vocação exportadora das mais diversas commodities e ciclo de aperto monetário em estágio avançado”.

O Citi observa, em relatório, que os fluxos para ativos domésticos têm sido elevados em 2022 e estão no maior nível para esse período do ano desde 2021. O banco vê possibilidade de que essa dinâmica se mantenha no curto prazo, já que investidores continuam a ter uma visão favorável para o real como uma moeda atrelada a commodities e com boa taxa de carregamento.

Além disso, observa o Citi, existe a expectativa por parte de investidores locais de que exportadores passem a internalizar recursos que têm mantido no exterior. “Essa visão tem impulsionado parte do otimismo com o real. Concordamos com isso e acreditamos que o caminho pode ser de retomada gradual dos fluxos comerciais ao longo do ano”, afirma o Citi.

Dados divulgados nesta segunda-feira à tarde pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia mostram que a balança comercial brasileira registrou superávit comercial de US$ 2,427 bilhões na terceira semana de março de 2022 (14 a 20) – o que levou o saldo acumulado no mês a US$ 6,178 bilhões. No ano, a balança é superavitária em US$ 10,108 bilhões.