A moeda brasileira, que havia sido muito castigada ao longo de outubro, auge das preocupações com o furo do teto dos gastos, agora se sobressai entre seus pares. Por aqui, o dólar à vista trabalhou em queda superior a 1% durante quase todo o pregão e, no início da tarde, chegou a romper o piso de R$ 5,40, descendo até a mínima de R$ 5,3926 (-1,95%). No fim do dia, encerrou em baixa de 1,74%, a R$ 5,4042 – menor valor de fechamento desde 1º de outubro, quando encerrou a R$ 5,3691.
Operadores destacam que o fluxo cambial foi pequeno devido ao feriado do Dia dos Veteranos nos Estados Unidos (com o mercado de Treasuries fechado), o que não tira a representatividade da recuperação do real. O fato é que, com a queda desta quinta, o dólar já perde 2,15% na semana. Em novembro, a moeda americana acumula um tombo de 4,28%, esboçando interromper uma sequência de dois meses de valorização (3,67% em outubro e 5,40% em setembro).
O economista-chefe da Integral Group, Daniel Miraglia, classifica a apreciação do real como um movimento natural de correção no curto prazo, estimulado pela redução das incertezas no campo fiscal. “O fato de a PEC passar na Câmara trouxe um alívio de curto prazo, porque significa que não vai se perder totalmente o controle das despesas, como poderia ocorrer sem a PEC”, afirma Miraglia, que vê uma “boa possibilidade” de a proposta ser aprovada no Senado. “Estão tirando cenários piores dos preços, mas o real ainda tem um desempenho pior que seus pares em janelas mais longas.”
O estrategista da Davos, Mauro Morelli, vê a recuperação recente do real não como um sintoma de otimismo dos investidores com a política fiscal, mas como uma redução gradual do pessimismo após a aprovação da PEC dos Precatórios. Ele lembra que o dólar chegou a toca R$ 5,70 e era de se esperar um recuo da taxa de câmbio à medida que diminuísse um pouco a percepção de risco. “Não vejo esse movimento como uma tendência de melhora. É mais um ajuste. A moeda brasileira ainda é uma das mais desvalorizadas do mundo e a volatilidade tende a continuar”, diz Morelli, chamando a atenção para as incertezas que devem ser provocadas pela aproximação do processo eleitoral.
Em evento realizado pelo Itaú, a diretora de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos do BC, Fernanda Guardado, pontuou que houve quebra na relação entre termos de troca e formação da taxa de câmbio no Brasil e em outros países produtores de commodities – fenômeno que poderia ser explicado pela deterioração fiscal provocada pelos gastos com a pandemia. Guardado acredita que essa descorrelação pode ser atenuada com a normalização das políticas monetárias. Em todo caso, o ‘modus operandi’ do BC no mercado de câmbio não muda. “Só atuamos em cenários de fluxo que não consegue ser digerido por mercado, ou quando há disfuncionalidade”, afirmou.
Em relação à política monetária, Guardado sinalizou que o ritmo de alta da taxa Selic em 1,5 ponto porcentual por reunião – adotado em no encontro do Copom em outubro – “ainda parece adequado”, dado o conjunto de informações que o BC tem no momento. Não faltou a tradicional ressalva de que o BC pode adotar mudar de ideia caso as condições econômicas se alterem.
O principal indicador do dia deu força a quem aposta que o Copom não vai acelerar o passo em dezembro. Pela manhã, o IBGE informou que as vendas no varejo caíram 1,3% em setembro em relação a agosto (com ajuste sazonal), enquanto a mediana de Projeções Broadcast era negativa em 0,6%. Em relação a setembro de 2020 (sem ajustes sazonal), o tombo foi de 5,5%, também acima da mediana (-4%).
Na B3, o dólar futuro para dezembro fechou em queda de 1,76%, a R$ 5,41400, com volume negociado de US$ 11,2 bilhões.