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Dólar cai pelo terceiro pregão seguido e fecha na casa de R$ 4,60

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Estadão Conteúdos

Em dia de apetite ao risco no exterior, alta das commodities e perdas da moeda americana frente a divisas emergentes pares do real, o dólar à vista sucumbiu mais uma vez no mercado doméstico de câmbio, emendando o terceiro pregão seguido de queda. Operadores voltaram a relatar fluxo de recursos estrangeiros, desmonte de posições defensivas no mercado futuro e movimentação de exportadores, com internalização de recursos e fechamento adiantado de contratos de câmbio para aproveitar a taxa Selic elevada.

Tirando uma alta pontual logo após a abertura, o dólar à vista trabalhou em queda durante toda a sessão. Na mínima, pela manhã, desceu até R$ 4,6060 (-1,31%). Após operar na casa de R$ 4,61 ao longo da tarde, a moeda acelerou as perdas na reta final da sessão fechou em baixa de 1,27%, a R$ 4,6081 – menor valor de fechamento desde quatro de março de 2020 (R$ 4,5801). Na prática, isso significa que o dólar está voltando ao patamar visto antes do início dos lockdowns no país para conter a covid-19.

Lá fora, o índice DXY – que mede o desempenho dólar frente uma cesta de seis moedas fortes – operou em alta ao longo do dia, ao redor dos 99,000 pontos, sobretudo em razão da fraqueza do euro. Em relação a divisas emergentes, o dólar caiu frente aos pesos mexicano, chileno, colombiano e ao rand sul-africano. O rublo russo também se recuperou hoje, com ganhos superiores a 3%, embora ainda amargue queda de dois dígitos neste ano.

“A grande história dos emergentes em 2022 não é a do rublo russo, mas a da reprecificação do real, após longo período de uma grande subvalorizacão”, afirma, no Twitter, o economista-chefe do Instituto Finanças internacionais (IIF), Robin Brooks, que mantém preço justo de R$ 4,50 para a taxa de câmbio. “A última vez que o real apresentou esta força foi em março de 2022, justamente quando a primeira onda de covid estava fechamento a economia global. O real foi punido de forma injusta nos últimos dois anos”.

Depois do tombo da semana passada, na esteira do anúncio de liberação de reservas estratégias por parte dos Estados Unidos, as cotações do petróleo voltaram a subir com as discussões de novas sanções econômicas à Rússia, acusada de ter cometido crimes de guerra na Ucrânia. O barril tipo Brent para junho fechou em alta de 3%, a US$ 107,53 o barril. Dando sequência ao movimento ascendente, o minério de ferro negociado em Qingdao, na China, subiu 0,98% nesta segunda-feira, cotado a US$ 142,54 a tonelada. Commodities agrícolas como milho e trigo avançaram mais de 2% na Bolsa de Chicago.

Commodities em alta e leituras de inflação corrente apertadas levam o mercado a apostar que o Banco Central vai ter que estender o ciclo de aperto monetário para além de maio e levar a taxa Selic, hoje em 11,75% ao ano, para mais de 13%. A valorização das commodities se sobrepõe à apreciação do real e impede um recuo das expectativas de inflação. O IPC-Fipe fechou março com alta de 1,28%, aceleração ante fevereiro (0,90%) e acima da mediana de Projeções Broadcast (1,23%).

Por ora, com os juros reais negativos nos Estados Unidos, dado que o processo de ajuste monetário está no início, a taxa brasileira é muito atraente e estimula operações de carry trade (que exploram diferencial de juros entre países). Lá fora, além do conflito na Ucrânia, as atenções estarão voltadas para a divulgação, na quarta-feira, 6, da ata do Federal Reserve.

“O real não está caro sob o ponto de vista econométrico mesmo nessa região. A gente segue com um juro real muito forte e spread de juros entre Brasil e Estados Unidos que atrai fluxo estrangeiro. Além disso, tem setores específicos da Bolsa que ainda estão baratos”, afirma Flávio de Oliveira, Head de Renda Variável da Zahl Investimentos.

A B3 informou nesta segunda-feira que os investidores estrangeiros ingressaram com R$ 21,355 bilhões em março. Em razão de um ajuste de metodologia, o fluxo positivo para renda variável em 2022 caiu de R$ 91,1 bilhões para R$ 64,1 bilhões, ainda um nível elevado.

A novela em torno da sucessão no comando da Petrobras, que ganhou um novo capítulo com a desistência do economista Adriano Pires de assumir a presidência da petroleira, segundo informou o Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), foi monitorada, mas não teve papel relevante na formação da taxa de câmbio.