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Dólar fecha em leve alta, a R$ 5,3096, com cautela doméstica no radar

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Estadão Conteúdos

Cautela com a cena fiscal doméstica e movimentos técnicos de rearranjo de posições impediram que o real se beneficiasse do aumento do apetite ao risco no exterior, em dia marcado por forte valorização das bolsas em Nova York e do próprio Ibovespa.

Após alternar sinais ao longo da manhã, com descida até a mínima de R$ 5,2573 logo após a abertura, o dólar passou a tarde perto da estabilidade. Afora um pequeno repique na reta final dos negócios, quando atingiu a máxima a R$ 5,3121, a moeda americana trabalhou sempre perto do patamar de R$ 5,30. No fim da sessão, era cotada a R$ 5,3096, em alta de 0,10%.

Como ontem, corriam nas mesas de operação relatos de que fundos estariam zerando posições vendidas em real e insuflando os preços do dólar futuro – movimento que se espraia para as cotações no mercado à vista e prejudica a performance do real no curto prazo.

No exterior, a moeda americana operou em queda firme tanto em relação a divisas fortes quanto emergentes, devolvendo os ganhos obtidos na tarde de ontem, após o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, sinalizar que o início da redução do volume mensal de compra de bônus (‘tapering’) deve começar em novembro, embora de forma bastante gradual.

O índice DXY – que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes – recuava mais de 0,40%, na casa dos 93.000 pontos. Entre as divisas emergentes, a única com perda acentuada em relação ao dólar era a lira turca, punida pela decisão do BC da Turquia de reduzir a taxa básica de juros de 19% para 18% ano.

Ainda no exterior, o Banco do Povo da China (PBoC) anunciou injeção de 120 bilhões de yuans (US$ 18,6 bilhões) no sistema financeiro, atenuando as preocupações em torno dos desdobramentos de eventual insolvência da incorporadora Evergrande.

Por aqui, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, como esperado, elevou a taxa Selic em 1 ponto porcentual, para 6,25% ao ano, e já sinalizou outra alta de 1 ponto em seu próximo encontro (em 26 e 27 de outubro).

“O Fed, com a sinalização do tapering em novembro, foi um pouco mais hawkish do que o mercado esperava, o que fez o dólar se valorizar ontem lá fora. Já a decisão do Copom de subir 1 ponto porcentual foi neutra”, afirma o head de mesa específica para câmbio e operações PJ da Wise Investimentos Gustavo Gomiero. “Temos que ver notícias boas, de reforma andando no Congresso, para aliviar essa pressão e o dólar voltar para sua tendência de queda aqui”, completa.

Em tese, juros mais elevados aumentam a atratividade da renda fixa local para investidores estrangeiros e desencorajam apostas contra o real. Por ora, contudo, não se vislumbra uma depreciação mais forte do dólar por aqui, muito por conta das incertezas no cenário fiscal e político doméstico, em meio à tramitação da PEC dos Precatórios na Câmara e da reforma do Imposto de Renda no Senado – essenciais para pôr em pé o Auxílio Brasil, a versão ampliada do Bolsa Família.

Fontes relataram hoje ao Broadcast que o governo já trabalha com a possibilidade de nova prorrogação do auxílio emergencial (programado para terminar em 31 de outubro) caso a PEC dos Precatórios e a reforma do IR não sejam aprovadas nas próximas semanas. Circularia pela Esplanada dos Ministérios, segundo apurou o Broadcast, que o auxílio emergencial seria renovado com valor de R$ 400, acima dos eventuais R$ 300 do Auxílio Brasil. A principal diferença entre os dois programas, do ponto de vista fiscal, é que a despesa com auxílio emergencial fica fora do teto dos gastos.

Na avaliação do diretor da Wagner Investimentos, José Faria Júnior, a combinação de início de retirada de estímulos nos EUA com alta mais comedida da Selic por aqui – aliada à falta de avanço das votações no Congresso para resolução do Orçamento de 2022 – incomoda os investidores. “Acima da região de R$ 5,30, o dólar tem potencial para subir em direção a R$ 5,40”, afirma Júnior, em relatório.

Entre os indicadores do dia, destaque positivo o resultado da arrecadação de impostos e contribuições federais em agosto (R$ 146,463 bilhões), acima da mediana do Broadcast Projeções (R$ 145,20 bilhões). No ano, até agosto, a arrecadação federal soma R$ 1,199 trilhão, o maior volume para o período desde o início da série histórica, em 1995.